Opiniao

O país dos números mágicos

Por: Mui Woothaceria

Outro dia, a televisão anunciou com toda a pompa: o Ministério da Saúde vai vacinar 18,2 milhões de crianças com menos de 10 anos. A notícia, em si, é boa. Vacinação em massa é sinal de cuidado, de responsabilidade pública. Mas, confesso, o que me chamou atenção não foi a campanha — foi o número.

Dezoito vírgula dois milhões? Crianças? Menores de 10 anos?

Olhei para a parede, depois para o teto. Fiz as contas. Peguei o telemóvel, entrei no site do INE: 34 milhões de habitantes em 2025. Tá certo. Mas a CNE diz que temos 17 milhões de eleitores. Somei com esses 18 milhões de crianças e chegamos a 35 milhões de pessoas. Algo não bate certo. E os jovens entre 10 e 17anos de idade? Viraram fumaça?

Fiquei ali tentando entender!: Como pode um país ter mais crianças que habitantes?

E essa confusão não é nova. O UNICEF fala em 13 milhões de crianças em pobreza. O INE já apontou 14 milhões de pessoas com menos de 15 anos. Cada instituição solta o seu número como quem atira dados no chão e escolhe o que mais lhe convém.

É quase mágico. Conforme o tema — vacinação, eleições, pobreza, fundos internacionais — o número se transforma. Cresce, diminui, muda de roupa.

E aí eu percebi: não é um erro de matemática. É um erro de Estado.

Um país que não sabe quantos somos, não pode saber o que precisamos.
Não pode planificar. Não pode priorizar. Não pode governar com justiça.

Sem números fiáveis, os recursos se perdem. As políticas públicas se baseiam em palpites. E as decisões viram apostas — ou pior, estratégias políticas disfarçadas de estatísticas.

Por isso, deixo aqui um apelo, ou talvez um pedido de bom senso:

Que se padronizem as categorias etárias, para que 0-10 signifique sempre 0-10.

Que se exija transparência nas metodologias. Não basta dar o número. Tem que mostrar como se chegou lá.

Que se promova uma auditoria independente dos dados populacionais, feita por quem não tenha interesse nos resultados.

Porque, no fim das contas, um país não se constrói com números mágicos. Constrói-se com verdades contáveis.

E sem verdade nos números, sobra só a ilusão. (Moz24h)

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