Por Luis Nhachote
Luis Nhachote e João Fernando Chamusse
Hoje é um daqueles dias cinzentos da condição humana: despertar com a notícia do assassinato de um pai, esposo, amigo e companheiro desta longa jornada da vida é dramático.
Chamusse nos últimos tempos destacou-se como comentador-residente de um talk show na TVSucesso canal do “Filho do Povo”. Por essa via, muito rapidamente, chegava ao público emergente e os trechos da sua intervenção cáustica eram frequentemente partilhado nas redes sociais (whatsaap TikTok) e sujeitos à reflexão no submundo politicamente incorrecto dos grupos de WhatsApp.
Narrava-me o João Chamusse, que no romper da aurora da década oitenta (a tal que os actores da luta armada contra a Longa Noite Colonial pretendiam vencer o subdesenvolvimento e criarem HOMENS NOVOS) depois de terminar a Francisco Manyanga, foi continuar os seus estudos na Escola Nacional de Aeronáutica Civil recém inaugurada.
Concluído os estudos preliminares para ser piloto, desaguou o João em terras lusas para materializar o desiderato de voar e fazer voar. Ao final de tres anos na antiga metrópole regressou ao país com a sua licenca de piloto comercial.
Entretanto, como me contou inúmeras vezes, no lugar de pilotar os aviões, mister para o qual fora formado, treinado, qualificado e habilitado, foi colocado na torre de controlo do aeroporto de Mavalane.
Aliás, para que conste e a memória não se apague, na noite em que o Tupolev 134 presidencial embateu nas colinas de Mbuzini, um acto oficiosamente atribuído ao regime do Apartheid, o João estava em serviço na aludida torre de controle.
A morte do marechal e parte dos integrantes da sua delegação, pariu vários suspeitos e, por isso, o João Chamusse foi sujeito a diligentes e intermináveis valentes interrogatórios pelo então Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP)
Doeu no coração do João ter percebido, naquela altura, que a condição para pilotar um avião, fora impedida e condicionada pela sua tez escura em detrimento de outros mais claros… das minorias, sempre elas.
Desapontado com a aviação, pegou na sua licença de piloto e atirou esquecida em algum lugar e decidiu embarcar no mundo das artes plásticas no Núcleo de Arte.
Quando em 1997 o escriba Carlos Cardoso se apartou dos seus pares da Mediacoop para fundar o Metical, levando consigo parte da redacção do Mediafax, o Zacarias Couto mostrou-lhe o caminho da redacção. Solícito João largou então, os pincéis e as espátulas e começou o seu trilho no jornalismo.
Com ele escrevemos parte das páginas da história da comunicação social nacional. Foi ele, na condição de editor, quem publicou a minha lavra de “41 Cartas ao Presidente Chissano”. Com ele recusamos imposições editorias emanadas por alguns dos nossos patrões …e por essa razão fomos, com ele e outros, fundar o Canal de Moçambique.
Acabamos ambos por nos apartar para outros tratados, mas sempre imbuídos da crença dos valores da liberdade. Voltamos a estar juntos no Ponto por Ponto por um ano, onde ele era director e acionista.
A este piloto a quem a raça negou o cockpit de um Boeing e desaguou no jornalismo, a minha vénia.
Ate sempre meu irmão maronga e muito culto por sinal.