O PAÍS DEVE PENSAR NUM SISTEMA DE PRODUÇÃO QUE SEJA RESILIENTE A CICLONES E CHEIAS
Na última semana, Moçambique foi novamente devastado pelo impacto de um ciclone. Desta vez, é o ciclone Jude, que trouxe destruição e sofrimento a várias províncias do norte do país. Dados preliminares apontam para um saldo de nove mortos, mais de 20 feridos e 100.410 pessoas necessitando de ajuda urgente.
O ciclone causou danos avassaladores nas infraestruturas, destruindo total ou parcialmente mais de 20 mil casas, 182 salas de aulas, 28 unidades de saúde e seis pontes, além de danificar estradas e linhas de transporte de energia.
Nos últimos cinco anos, o país foi atingido por mais de dez ciclones, como Idai, Kenneth, Dineo, Enock, Chimene, entre outros, que têm sido uma constante ameaça. Porém, há um debate que tem sido praticamente negligencia- do no meio desse cenário.
Trata-se do impacto das mudanças climáticas para o sector agrícola e segurança alimentar: a destruição de machambas, que são a principal fonte de sustento de milhares de famílias moçambicanas. Para muitas destas famílias, que dependem exclusivamente da agricultura, o impacto dos ciclones vai além da perda material.
As machambas, que são cultivadas como o seu único esforço e esperança, foram devastadas, deixando mi-hares de pessoas em situação de insegurança alimentar e sem meios de subsistência.
Além disso, a destruição das estradas e pontes limita ainda mais a capacidade de recuperação, pois dificulta o acesso aos mercados, interrompendo a comercialização dos produtos agrícolas que poderiam garantir alguma renda durante a época de colheita.
Esta situação é uma clara evidência de como as mudanças climáticas es- tão a afectar directamente o sistema de produ- ção agrícola, colocando em risco a segurança alimentar e o sustento de milhões de moçambicanos.