A agressão de um camionista malawiano por dois agentes da Polícia moçambicana, na fronteira entre os dois países, volta crispar as relações entre Maputo e Blantyre, com este último a lançar reiterados apelos por justiça, nesta terça-feira, 30.
Num vídeo, que se tornou rapidamente viral nas redes sociais, vê-se dois agentes da polícia moçambicana a agredirem um camionista malawiano, identificado como Elasto Ngonyani, de 35 anos na fronteira de Zobue, na província moçambicana de Tete.
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Os agentes da polícia, com o motorista imobilizado entre os pneus do camião, pisavam a sua cabeça e ignoravam os seus gritos.
No mesmo vídeo ouvem-se vozes de outros condutores pedindo o fim da tortura, algumas vozes dizendo “o motorista pode morrer”.
Um laudo médico divulgado pelo Ministério de Saúde do Malawi, a 22 de Janeiro, que se supõe seja a data da agressão, diz que Elasto Ngonyani teve múltiplo traumatismo que poderá comprometer o seu desempenho adequado no futuro, e recomenda uma assistência médica contínua.
Em resposta à agressão, o sindicato dos motoristas do Malawi convocou os membros a não entrar em Moçambique a partir de 29 de Janeiro, até que a justiça seja feita.
O Malawi é um dos maiores usuários dos portos da Beira e Nacala.
Canais diplomáticos
O embaixador do Malawi em Moçambique, Wezi Moyo, que trabalhou com o cônsul geral do Malawi para a província de Tete, Happy Saka, para garantir cuidados médicos imediatas ao condutor, é citado pela imprensa malawiana, nesta terça-feira, 30, a reiterar apelos à justiça, quase uma semana depois de Malawi e Moçambique terem lançado uma investigação sobre o incidente.
“Esperamos uma investigação exaustiva e que sejam imputadas responsabilidades sobre os agressores”, disse o diplomata malawiano, referindo que logo após o incidente foram iniciados contactos diplomáticos para corrigir situações futuras.
Entretanto, a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Tete, disse que os canais diplomáticos continuam ativos para a solução do incidente, e que a ameaça de paralisação dos motoristas malawianos não estava a ter efeitos no funcionamento da fronteira.
“O assunto está a ser tratado a nível diplomático, e o movimento na fronteira de Zobue continua a fluir sem sobressaltos”, disse à VOA Feliciano da Camara, porta-voz da Polícia em Tete.
A Voz da América contatou o Ministério moçambicano dos Negócios Estrangeiros que não respondeu de imediato o pedido de comentário.
Desculpa pública
As organizações de direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, também manifestaram a sua preocupação com a chocante agressão do condutor malawiano, e apelaram uma investigação exaustiva do incidente e a condenação dos responsáveis.
O analista moçambicano Ricardo Rabocco, defende que Moçambique já devia ter emitido desculpas públicas ao governo malawiano pelo uso da força desproporcional dos seus agentes e garantir que incidentes de género não voltem a ter espaço, sobretudo, contra estrangeiros.
“Este caso pode deteriorar as relações entre Moçambique e Malawi já tensas do ponto de vista histórico. Moçambique deve pedir desculpa oficial ao Estado Malawiano, pode ser pelos chefes de Estado ou a figura que representa o chefe de Estado no âmbito da política externa”, afirmou Ricardo Rabocco.
Rabocco realçou que Malawi continua um vizinho importante, sendo por isso a amizade não é “descartável,” apesar da posição privilegiada de Moçambique nessa relação.