Maputo — Uma empresa de consultoria contratada pela Fly Modern Ark, gestora das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), detectou casos de corrupção e má gestão naquela companhia, o que leva analistas políticos e económicos a defender uma investigação judicial, mesmo conscientes da impossibilidade disso, uma vez que as instituições da justiça estão muito partidarizadas.
Entre outras situações reveladas por Theunis Crous, director executivo sul-africana, Fly Modern Ark, está um alegado aumento de remuneração decidido pela então administração para os próprios administradores, aprovado em Janeiro último, de 100 mil meticais por mês, quando o Governo procurava uma solução para a gestão da LAM.
O analista político e editor do jornal digital Carta de Moçambique, Marcelo Mosse, diz que as acusações feitas contra gestores da companhia de bandeira são muito graves, sobretudo a forma como foram, divulgadas.
‘’É muito grave uma empresa estrangeira contratada para gerir a LAM acusar ex-gestores moçambicanos; e o que se espera é que haja uma investigação judicial séria e não uma condenação pública extra-judicial,’’ afirma Mosse.
Contudo, Gift Essinalo, pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), considera que uma investigação séria poderá não acontecer, porque ‘’o sistema da justiça, incluindo o Tribunal Administrativo, está partidarizado, como se provou no caso envolvendo um gestor da empresa Aeroportos de Moçambique, que foi condenado mas voltou a ocupar lugares e destaque na mesma empresa’’.
Transferências
Essinalo diz que ‘’muitas pessoas aproveitam o facto de terem de fazer transferências ao partido para usá-lo como sua defesa, como se provou que a empresa Aeroportos de Moçambique era usada como saco azul para a Frelimo (no poder) e agiu em defesa do individuo, e então se subtende que esse individuo foi colocado naquela posição para fazer transferências ao Partido’’.
Essinalo afirma que dado o facto de que ‘’a Frelimo está presente em todas as instituições, onde coloca pessoas para fazerem transferências, isso acaba por fragilizar todo o sistema de justiça’’.
Para este pesquisador, muitas das irregularidades que acontecem em empresas públicas se devem ao facto de que o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE)‘’não funciona.
Ele refere que ‘’uma das constatações é que as pessoas que estão nas posições cimeiras, como membros de Conselhos de Administração, aumentaram os seus salários sem o consentimento do IGEPE, e isso aconteceu também na Electricidade de Moçambique, o que demonstra que o IGEPE não controla as empresas públicas’’.
Em Abril, as fortes dificuldades financeiras levaram o Governo moçambicano a colocar a companhia Linhas Aéreas de Moçambique sob a gestão da Fly Modern Ark. (VOA)