Opiniao

Dubai é onde a consciência do mundo vai morrer

Foto : MSF

 

Por MAHMOOD SANGLAY

Nos anais da hipocrisia humana, poucos capítulos brilham tão berrantemente — e tão grotescamente — como a história do Dubai, essa miragem néon de vidro e aço, agora revelada como parceira silenciosa no genocídio israelita contra o povo palestiniano.

Os peregrinos do brilho mundial e os buscadores de areias douradas devem responder: como pode saborear o seu latte de açafrão numa piscina infinita no terraço enquanto as crianças de Gaza se engasgam com escombros e sangue? Ou a sua consciência — tal como os souks do Dubai — está aberta apenas para negócios?

Não vamos medir as palavras. Os Emirados Árabes Unidos, liderados pelos oligarcas banhados em petróleo de Abu Dhabi e pelos príncipes mercadores do Dubai, estão imersos em cumplicidade até ao pescoço. O Governo sudanês interpôs uma acção judicial no Tribunal Internacional de Justiça acusando os EAU de cumplicidade directa no genocídio — armando as Forças de Apoio Rápido no banho de sangue infernal do Sudão. E se podem traficar armas para a agonia do Darfur, porque é que as valas comuns de Gaza perturbariam o seu sono?

Entretanto, enquanto os palestinianos perecem sob bombas fabricadas por homens de fato, os Emirados Árabes Unidos recebem traficantes de armas israelitas em exposições luxuosas, negociando mísseis reluzentes como bugigangas num bazar. A DP World aproxima-se do Banco Leumi, planeando novos corredores logísticos enquanto Israel destrói os portos e as estradas de Gaza. As empresas israelitas e emiradenses trocam farpas por navios de superfície não tripulados no Dubai Air Show, aperfeiçoando a tecnologia que torna o abate clínico e distante, um genocídio gerido por algoritmos.

Esta é a sua Arábia moderna? Uma terra cujas mesquitas ecoam versos de misericórdia e justiça, mas cujos governantes se banqueteiam em mesas postas com os despojos do sofrimento palestiniano?

Isto é cumplicidade. Os Emirados Árabes Unidos tornaram-se o centro estratégico de apoio aéreo de Israel em plena guerra de Gaza. O comércio entre Emirados e Israel atinge níveis recorde, mesmo com partes de corpos a serem retiradas das ruínas de Gaza. O genocídio de Israel em Gaza não é apenas um crime israelita — é um empreendimento com investidores, parceiros comerciais e Estados árabes a trocarem capital moral por ganhos financeiros.

Poder-se-ia pensar que os gritos de crianças moribundas perfurariam até o vidro grosso dos arranha-céus do Dubai. No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos emite clichés moderados sobre “desescalada”, mesmo com aviões de carga dos Emirados a transportar peças sobressalentes para drones israelitas. Torcem as mãos bem cuidadas em fóruns públicos enquanto estendem passadeiras vermelhas aos bilionários e fabricantes de armas de Telavive.

O turista seduzido pelo canto da sereia do Dubai deve responder: o Burj Khalifa é suficientemente alto para escapar ao olhar de Alá? Será que o Dia do Juízo Final o encontrará a protestar por ter ido ali apenas para passar férias enquanto o seu dinheiro sustentava este castelo de cartas encharcado de sangue?

Os turistas muçulmanos que atravessam esta terra de opulência amoral devem responder: Onde está a sua qiblah agora? É em Meca ou nos centros comerciais da Rua Sheikh Zayed? Chora no Ramadão pelos oprimidos, apenas para reservar a sua viagem de Eid para o Dubai, a serva voluntária do massacre sionista?

Devemos falar claramente. Isso excede a hipocrisia. É traição contra a ummah. Uma traição cometida não em segredo, mas sob o brilho ofuscante das luzes néon e dos fogos de artifício a rebentar sobre as areias do deserto.

Devemos recordar: o Islão condena o opressor e aquele que o ajuda. “Ajuda o teu irmão, seja ele o opressor ou oprimido”, disse o Profeta ﷺ. E quando lhe perguntaram como se ajuda um opressor, respondeu: “Restringindo a sua mão”.

Mas a mão dos Emirados Árabes Unidos não é restringida. Estende-se — lubrificado com dólares do petróleo, com contratos com a máquina de guerra de Israel e polindo as fachadas dos hotéis onde a consciência do mundo vai morrer.

Enquanto Gaza morre de fome sob cerco, o Dubai orgulha-se do crescente comércio com Israel — um recorde de 2,5 mil milhões de dólares em comércio bilateral só em 2022. Os mesmos dólares que constroem fábricas de drones financiam as fontes deslumbrantes que dançam na base do Burj Khalifa. E, no entanto, os turistas acorrem a esta Disneylândia no deserto, com as suas stories de Instagram a brilhar de luxo, cegos à maré carmesim que sobe logo para lá das dunas.

Visitar o Dubai hoje é passear pela cena de crime mais cara do mundo, fingindo não ver as manchas carmesim que se infiltram no chão de mármore. Investir lá é financiar a arquitetura da morte. Ficar em silêncio é santificar o genocídio com o seu silêncio.

Devemos perguntar-nos: quantas mais crianças é que Israel precisa de enterrar antes que os hóspedes do Dubai cancelem as suas reservas para o brunch? …antes que os influencers parem com as suas selfies?… antes que a Ummah muçulmana se lembre que a Caaba não fica no Mall of the Emirates?

Que os Emirados mantenham as suas ilhas em forma de palmeiras. Que o Dubai mantenha as suas torres a arranhar as estrelas. Pois os gritos de Gaza perfuram mais alto do que qualquer horizonte — e a história registará que o Dubai brilhou… sobre uma montanha de cadáveres palestinianos.

É especialmente o turista muçulmano, o comerciante e o peregrino do luxo que deve abandonar este bazar manchado de sangue. Pois nem Alá nem a humanidade perdoarão aqueles que preferiram o lazer e as compras à justiça!!!! Esta é a mensagem de Jumma que deve ser proferida pelos Mimbares das Mesquitas de todo o mundo!!!! Para realçar o completo desleixo que temos para connosco, que viajamos para os Emirados com as nossas famílias apenas para “fazer compras”!!!! Não somos nós os hipócritas!!??!!??

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