Por Nlanlya Ehapari
Hoje assinala-se mais um aniversário do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) de Moçambique, uma data que, à primeira vista, deveria ser de celebração e orgulho para os profissionais da comunicação social em todo o país. No entanto, para muitos jornalistas, especialmente os que exercem a sua profissão na província de Cabo Delgado, esta efeméride é recebida com uma mistura de frustração, desilusão e crítica amarga. O motivo? A constante inoperância de um órgão que, apesar de se proclamar independente, mostra-se cada vez mais capturado pelas engrenagens de um sistema político que sufoca vozes dissonantes e ignora os verdadeiros desafios enfrentados pela classe.
Em Cabo Delgado, uma das províncias mais afetadas pela instabilidade e pela violência armada nos últimos anos, ser jornalista é, acima de tudo, um ato de coragem. Cobrir conflitos, denunciar abusos de poder, dar voz às comunidades marginalizadas tudo isso implica riscos reais para quem se compromete com o jornalismo sério e comprometido com a verdade. No entanto, diante desses desafios, o SNJ tem falhado rotundamente no seu papel fundamental de proteção e apoio aos seus membros.
Casos de jornalistas ameaçados, perseguidos, doentes e até mortos têm ocorrido com frequência preocupante. Mas o que faz o sindicato em resposta? Nada. Um silêncio ensurdecedor e uma ausência que dói mais do que qualquer editorial ignorado ou pauta recusada. Os seus representantes locais muitas vezes figuras decorativas alinhadas aos interesses do partido no poder pouco ou nada fazem. Quando um jornalista é internado, atacado ou sofre represálias por denunciar irregularidades ou criticar autoridades ligadas ao partido Frelimo, o SNJ opta pelo silêncio cúmplice, preferindo proteger suas ligações políticas do que defender seus membros. Quando morre ou fica doente um jornalista, de forma particular os têm optado em contribuir em conta própria para apoiar os seus colegas, enquanto o SNJ existe e que é o seu papel.
Essa atitude passiva e seletiva revela uma verdade desconfortável: o SNJ, embora criado para ser uma voz forte e independente em defesa dos direitos e da dignidade da classe jornalística, tornou-se um órgão politizado, cuja atuação está condicionada por interesses partidários. O jornalista que se atreve a escrever com clareza, com firmeza e sem bajulações aquele que não é um “lambi-botas” está, na prática, por sua própria conta. As estruturas sindicais que deveriam protegê-lo mostram-se distantes e ineficazes, sobretudo em contextos onde o poder político controla não só os meios de produção, mas também os instrumentos de mediação e representação da sociedade civil. (Moz24h)
É preciso dizer com todas as letras: o SNJ falha sistematicamente em ser o que promete. E em províncias como Cabo Delgado, onde o jornalismo é uma trincheira e a liberdade de expressão uma luta diária, essa falha custa caro. Não basta publicar comunicados simbólicos em datas comemorativas ou organizar conferências de imprensa em Maputo; é preciso estar presente onde os jornalistas estão mais vulneráveis – nos distritos remotos, nas zonas de conflito, nos hospitais, nas delegacias, nas redações sem condições mínimas de trabalho.
O aniversário de hoje não deveria ser apenas um ritual institucional. Deveria ser um momento de profunda introspecção e autocrítica. De perguntar: para quem serve, afinal, o Sindicato Nacional de Jornalistas de Moçambique? A quem representa realmente? E o que está disposto a fazer por aqueles que, mesmo sem salário digno, sem seguro de saúde, sem proteção legal, continuam a fazer jornalismo com coragem, integridade e espírito de missão?
Enquanto essas perguntas continuarem sem resposta, continuará também a crescer o fosso entre o SNJ e os verdadeiros protagonistas da imprensa moçambicana os jornalistas que arriscam a vida, todos os dias, para informar, formar e transformar.