Por Quinton Nicuete
O processo para obter a carta de condução em Moçambique está mergulhado em denúncias de opacidade, injustiça e corrupção. No Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários (INATRO), os exames teóricos são feitos em computador, mas os resultados não são apresentados ao candidato. Em vez disso, o examinador apenas comunica verbalmente se foi aprovado ou não — sem qualquer explicação, relatório ou acesso ao desempenho.
Cerca de 70% dos candidatos são reprovados, pagando 2.185 meticais por tentativa, além de uma multa de 1.000 meticais por reprovação. Num país onde a maioria vive com menos de 100 meticais por dia, isso representa um peso insuportável.
A situação torna-se ainda mais grave com o esquema conhecido como “bolada”, uma prática generalizada em quase todas as províncias — com maior destaque na Zambézia, Nampula e Cabo Delgado — onde candidatos compram a carta de condução sem realizar exames, pagando entre 50 mil a 70 mil meticais.
Muitos cidadãos acabam preferindo pagar, em vez de estudar ou passar pelo processo oficial. Como resultado, pessoas sem preparação técnica adequada estão a conduzir veículos nas estradas moçambicanas, o que pode estar diretamente ligado ao aumento dos acidentes de viação, que todos os anos tiram a vida de centenas de moçambicanos.
A ausência de transparência, aliada à corrupção institucionalizada, descredibiliza o sistema de avaliação de condutores e põe em risco a segurança rodoviária no país.
Especialistas e candidatos questionam por que, num sistema digital, os resultados não são visíveis nem documentados. A opacidade do processo levanta suspeitas de corrupção e injustiças, transformando o que deveria ser um serviço público em mais um obstáculo financeiro e emocional.
Há apelos urgentes para que o INATRO modernize de fato o sistema, garantindo que os resultados sejam visíveis, justificáveis e enviados por canais seguros como SMS ou e-mail — medidas simples que reforçariam a confiança no processo e o respeito ao cidadão.
Modernizar não é só informatizar. É garantir justiça, transparência e respeito à vida. (Moz24h)