As últimas incursões do sindicato criminoso dos raptos estão a mostrar que o Governo pouco ou nada está a fazer para conter ou combater este fenómeno. Num espaço de um mês houve duas tentativas de rapto e dois raptos consumados, todos na cidade de Maputo, onde houve um investimento milionário na instalação de câmaras de videovigilância e há, pelo menos, dois agentes da Polícia de Protecção em quase todas as artérias. Nas suas acções, os raptores agem à vontade e sem preocupação com disfarces. Diz o CDD
Há mais de três anos que a brigada anti-raptos, anunciada pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, não passa de uma declaração de intenção. A Polícia de Protecção esconde-se quando vê os raptores. A população tornou-se mais corajosa e capaz que a Polícia, tendo já frustrado duas incursões dos raptores.
E é fácil provar a inércia do Estado. A cidade de Maputo fechou 2023 com uma tentativa de rapto e abriu 2024 com outra tentativa e dois raptos consumados.
Em 16 de Janeiro, por volta das 13h00, um empresário de ascendência asiática escapou1 das mãos dos raptores, na baixa da cidade de Maputo, graças à resistência da vítima e da intervenção popular. A população atirou pedras e garrafas contra a viatura de marca Toyota, modelo “Ractis”, na qual os raptores se faziam transportar.
Em 27 de Novembro, um empresário, também de ascendência asiática, escapou das mãos dos raptores. Em ambos os casos a Polícia ficou escondida a assistir a população a lutar contra os raptores para proteger a vítima.
Em Novembro, os agentes da Polícia disseram que não podiam intervir porque os raptores estavam fortemente armados.
Quer na tentativa de Novembro quer na de 16 de Janeiro, os raptores empunhavam ar- mas de guerra como AK-47.
No dia 17 de Janeiro foi raptado Jorge Alexandre Ferreira de Sousa, um construtor português. Já está em liberdade mediante pagamento de um resgate de 500.000,00 meticais.
No sábado, 20 de Janeiro, cerca das 08h00, foi raptado o empresário Mohammad Hussein 2 (Calú), dono dos Armazéns Atlântico.
Segundo as nossas fontes, os agentes da Polícia de Protecção que estavam no local puseram-se em fuga quando os raptores começaram a efectuar disparos.
Os seguranças do empresário tentaram oferecer resistência, mas acabaram baleados.
Esta é a segunda vez que Mohamad Hussein cai nas mãos dos raptores. O primeiro caso deu-se em 27 de Julho de 2011. O empresário teve de desembolsar 14.000.000 de meticais para ser restituído à liberdade.
De 2011 , quando os raptores fizeram as primeiras vítimas, a esta parte contabilizam-se mais de 60 raptos. Entre 2018 e 2021, o país registou 30 casos de rapto. Até 27 de Dezembro de 2022 tinham ocorrido 13 raptos. Em 2023, segundo o Presidente da República, Filipe Nyusi, houve 6 raptos. “Continuam a preocupar-nos os casos de raptos, mesmo com registo de redução em, contra 12 casos, registados em igual período de 2022”, disse Filipe Nyusi, em 20 de Dezembro, quando apresentava o Informe sobre a Situação Geral da Nação.
A unidade anti-raptos 6 anunciada pelo Presidente da República, em Dezembro de 2020, que era vista como a esperança para estancar o mal, parece que não passa de uma declaração de intenção ou um sonho que não será alcançado, pelo menos, este ano. Já lá se vão três anos. Estranhamente o Presidente da República já não fala sobre o assunto.
No seu Informe sobre a Situação Geral da Nação, Nyusi não disse uma palavra sequer sobre a unidade anti-raptos. Nyusi, em finais de mandato, tem, agora, menos de 10 meses para criar a brigada anti-raptos. As instituições envolvidas no combate contra os raptos denotam sinais de desnorte e resignação. Por exemplo, o novo ministro do Interior, Pascoal Ronda, foi ao Parlamento apelar para uma nova reflexão 7 sobre o fenómeno, envolvendo o Governo, o Serviço de Informação e Se- gurança do Estado (SISE) e o Judiciário.
A Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, tem usado os discursos de ocasião, sobretudo na Assembleia da República, para se queixar da existência de infiltrados no Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), nos tribunais e no seio dos advogados, o que para ela dificulta o combate contra este mal.
Detenções de pessoas, algumas das quais sem qualquer relevância9 na cadeia dos raptos, não ajudam a resolver o problema. O Centro para Democracia e Direitos Humanos tem estado a defender que é fundamental que o Estado chegue aos mandantes, se, de facto, quiser combater os raptos.
O facto de quase sempre as vítimas voltarem ao convívio familiar mediante pagamento de resgates milionários; o aparente medo dos agentes da Polícia relativamente aos raptores, deixando para a população 10 a tarefa de defender os empresários que são as vítimas preferenciais dos raptores e o aumento das incursões dos terroristas mostram que o Estado está a fazer pouco ou nada para com- bater os raptos