Foto: Estacio Valoi/ Centro de deslocados Montepuez
A crise humanitária em Cabo Delgado em resultado do terrorismo que já dura a cerca de seis anos pode agravar-se este ano, dizem organizações não governamentais em Cabo Delgado
Numa apresentação online na semana passada a que o nosso jornal participou, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) debruçou-se sobre os dois anos após a sua chegada a Cabo Delgado e os desafios constatados que as comunidades enfrentam em toda a Provincia.
Dos desafios enfrentados constam a interrupção do tratamento de doenças crônicas, como diabetes e HIV/SIDA, chegar a pessoas deslocadas que vem sendo realocadas nas áreas mais afectadas pelo conflito ‘e outro desafio.
Tal como o relatório deste mês sobre condições no Nordeste do Observatório do Meio Rural (OMR), o evento parecia ter sido cronometrado para influenciar o aguardado relatório sobre a situação humanitária de Jean-Christophe Rufin e encomendado pela TotalEnergies. Rufin é ex-vice-presidente de MSF.
“As condições em Palma melhoraram significativamente desde a chegada de MSF há dois anos, embora o hospital distrital seja a única unidade de saúde pública em funcionamento no distrito, de acordo com MSF. As clínicas móveis chegam a algumas áreas rurais, como Quionga, na estrada para a Tanzânia, e Olumbe, no sul do distrito, e foram recentemente estendidas a Pundanhar, no oeste. Segundo fontes em Palma, a TotalEnergies está empenhada em apoiar o regresso dos deslocados da vila de Palma a Pundanhar. Um posto militar ruandês fornece a segurança necessária.”
Foto: Estacio Valoi/Paquite
Ainda segundo a organização MSF no distrito de Mocimboa da Praia as necessidades para fazer face a crise humanitária vao aumentado devido ao crescente numero da população que após ter se refugiado em outras zonas aquando dos ataques naquele distrito, vao regressando aos poucos.
“A população do distrito é agora superior a 100.000 pessoas, e o número está a aumentar. A Organização Internacional para as Migrações registrou quase 3.000 pessoas que retornam ao distrito entre 8 e 23 de Março. De acordo com o relatório da OMR sobre o nordeste, a população pré-conflito em 2017 era de 123.975. Apesar desta população em rápido crescimento, a vila ainda não dispõe de hospital e conta com clínicas móveis. O hospital de Mueda é atualmente a única unidade de saúde secundária que atende os distritos de Mocímboa da Praia, Mueda e Nangade, de acordo com MSF.”
MSF lembra-nos, como a OMR apontou num relatório anterior em Agosto passado, que a maior parte da ajuda continua concentrada no sul e não chega a Mocímboa da Praia, muito menos aos distritos de Macomia, Meluco e Muidumbe, que ainda sofrem ataques. Emboscadas constantes nas estradas principais, como a que mataram um trabalhador de MSF em Fevereiro, complicam a logística para o setor de saúde tanto quanto para todos os outros no norte.
Essas preocupações são compartilhadas a nível da comunidade. Na sexta-feira, 24 de Março, o administrador distrital de Mocímboa da Praia realizou uma reunião pública na vila. Falando em português com um intérprete Kimuani, disse a uma pequena multidão que o Presidente Filipe Nyusi tinha prometido financiamento para restaurar o hospital. Quando isso pode acontecer não está claro. Numa avaliação das necessidades em Dezembro de 2022 “a renovação, reabastecimento e reequipamento de unidades de saúde” foi listado como um assunto para a fase de “recuperação”.
Foto: Estacio Valoi/Porto de Pemba
Chegar à fase de recuperação dependerá do risco de segurança. O administrador do distrito também fez uma oferta de amnistia na reunião, pedindo perdão e invocando o mês de jejum do Ramadão. “Os al-Shabaab são nossos filhos”, disse ele, “e é por isso que devemos perdoá-los. O Ramadão é para o perdão.” Na semana anterior, em reunião pública convocada pela polícia, foi oferecida reabilitação e amnistia. Sem uma diminuição da ameaça à segurança, as pressões de saúde delineadas pelos MSF irão persistir. (Moz24h)