O ministro do Interior, Pascoal Ronda, foi, esta semana, ao parlamento dizer que durante os 130 focos de manifestações contra as fraudes eleitorais, registados em Nampula, Zambézia, Cidade de Maputo, Niassa, Sofala e Tete, apenas houve “morte de uma pessoa em Cabo Delgado”, referindo-se ao jovem simpatizante da Renamo assassinado pela Polícia, a 12 de Outubro, em Chiure. As estatísticas do ministro escondem cerca de meia dúzia de assassinatos na Cidade de Nampula e de Nacala-Porto.
Na cidade de Nampula apontam-se quatro mortos. O CIP Eleições confirma pelo menos dois deles, cujos familiares foram localizados e confirmaram as ocorrências. Trata-se de Sabonete Saíde, de 27 anos, assassinado por uma bala da polícia na sua casa. Sabonete era casado e pai de dois filhos, de dois e três anos. A esposa está, neste momento, com uma gravidez de dois meses, conforme confirmou Atumane Saíde, o irmão do assassinado.
A outra vítima das balas da polícia é uma criança de 14 anos, de nome Atipo Juma, filho de Juma Macussete Abdala. A criança foi baleada quando se encontrava na rua a vender maheu, uma bebida não alcoólica produzida a partir de farinha de milho. Após o baleamento, Atipo Juma foi levado ao Hospital Central de Nampula, onde viria a perder a vida. Juma Abdala, pai do menino, foi à esquadra pedir satisfações, mas foi informado que deveria ir cuidarde enterrar o seu filho.
Quer Juma Abdala, quer a família de Sabonete Saíde não receberam, até aqui, visita nem apoio doEstado, confirmaram ao CIP Eleições.
Na cidade de Nacala-Porto, há também confirmação de dois jovens assassinados pela polícia. O primeiro chama-se Issa Félix, um jovem comerciante do mercado Juma, o maior de Nacala. Félix foi baleado mortalmente por volta das 22 horas do dia 26 de Outubro, quando tentava atravessa a rua,na companhia de amigo de nome Issufo Momade Manuel.
“Ao anoiteceu saímos juntos para o passeio, logo que chegamos aqui no mercado (Ontupaia), meu amigo queria atravessar a estrada, quando foi baleado mortalmente”, contou o amigo.
O corpo de Félix ficou algum tempo na estrada sem ser removido, devido ao receio de maisbaleamentos.
No dia seguinte, 27 de Outubro, a polícia assassinou a tiros um adolescente de 17 anos que respondiapelo nome de Braimo Arlindo, vendedor de sacos plásticos, em Nacala. Braimo foi assassinado aolado do pai quando se encontravam escondidos numa casa, após a polícia ter lançado gás lacrimogéneo.
A polícia perseguiu-os e encontrou-os no esconderijo. Baleou mortalmente, a sangue frio, o
adolescente. O pai sobreviveu, mas contraiu ferimentos graves.
https://www.cipeleicoes.org/wp-content/uploads/2023/11/Boletim-das-eleicoes-175-1.pdf