Um skate e um par de sapatilhas salvaram Richard Vilankulo, 19 anos, dos riscos da vida de rua em Maputo. Hoje, além da escola, o jovem tem um sonho: levar as cores da bandeira moçambicana a uma competição olímpica.
“Eu fui salvo pelo skate e agora já pratico há quase oito anos”, contou à Lusa Richard Vilankulo, com um dos pés sobre um skate, no meio da esquina entre as avenidas Paulo Samuel Kankhomba e Mártires da Machava, um movimentado ponto da capital moçambicana onde dezenas de jovens praticam a modalidade.
Richard Vilankulo está entre dezenas de jovens que foram salvos por um projeto comunitário da Maputo Skate, uma associação moçambicana de amantes da modalidade que procura manter jovens na escola, incentivando-os a conciliar as aulas com este desporto, sobretudo nos subúrbios da capital moçambicana.
“Quando eles entram no projeto sem um sonho, nós lhes ensinamos a sonhar. Eles podem não ter uma visão da vida, mas com esta iniciativa nós os incentivámos a ter um projeto de vida e uma visão mais ampla. Se este jovem desenvolver suas habilidades no skate, ele pode chegar a competir, representando o país nas competições de fora”, disse à Lusa o presidente da Maputo Skate, Francisco Luís.
Os dados do último censo populacional (2017) divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas indicam que, no universo de 32 milhões de moçambicanos, cerca de 9,4 milhões são jovens, um terço dos quais sem emprego, escolaridade ou formação profissional.
Até 2015 Richard Vilankulo fazia parte destas estatísticas, mas, desde que abraçou o projeto da Maputo Skate, encontrou forças para voltar às aulas e, principalmente, sonhar com um futuro longe dos “perigos das ruas”.
“Eu estava na rua, não tinha um objetivo concreto. Não estava enquadrado, como jovem. Agora, além de estudante, sou `Skater´. Eu sigo a arte”, explicou, com puro entusiasmo, expressando a ambição de, um dia, representar Moçambique em competições internacionais.
No total, indicou o presidente da Maputo Skate, pelo menos 150 jovens amantes da modalidade em Maputo voltaram às aulas em resultado da iniciativa, mas há vários desafios para dar continuidade ao projeto.
“Nós estamos sem espaço para praticar. Tínhamos as nossas rampas montadas no Parque dos Continuadores [um famoso recinto desportivo no centro da capital], mas foram removidos e agora os gestores cobram-nos 100 meticais (1,4 euros) para praticarmos. Não temos esse dinheiro”, declarou Francisco Luís.
A solução dos amantes desta arte foi voltar às ruas, assumindo os riscos de realizar manobras no meio da azáfama típica de uma área que concentra 70% do parque automóvel de todo o país: a grande Maputo.
“Temos casos de várias pessoas que já se magoaram na rua. Eu próprio já parti a clavícula. Nós gostávamos de ter um lugar próprio e em que não precisássemos nos preocupar com os carros, na medida em que o Skate já é uma modalidade que requer concentração”, observou Ruben Vilanculos, presidente da Associação de Skate da Matola, que também está no projeto.
Enquanto as soluções não chegam e os apelos se multiplicam, entre buzinas e gritos, os amantes desta modalidade prometem continuar a contornar as avenidas da capital moçambicana, na ambição de devolver “sonhos” a uma juventude suburbana ameaçada pelas drogas e a criminalidade.
“O bichinho do Skate está em nós e, na verdade, o Skate começou nas ruas. Não queríamos que o mesmo terminasse aqui, mas não vamos parar”, concluiu o presidente da Maputo Skate. (Lusa)