Sociedade

O terrorismo e o desafio da unidade nacional em Moçambique

 

Nos últimos oito anos, a chamada “unidade nacional” do povo, neste país que temos a alegria de chamar Moçambique, vem sendo desafiada pelo fenômeno dos ataques terroristas.
Nesta breve reflexão pretendemos discutir os limites da unidade nacional quando o assunto dos insurgentes afetou e continua a destruir os bens preciosos, especialmente, a vida, na região norte de Moçambique, em particular, na província de Cabo Delgado.

A unidade de um pouco não se define somente em alguns aspectos como a língua nacional e momentos de eleições.
A unidade nacional transcende os aspectos políticos e ideológicos que, geralmente, em um país como Moçambique, são temas discutidos por poucas pessoas.

A unidade nacional tem a ver com a questão de pertença e ação conjunta na luta por um país mais fraterno, mais solidário, de um povo mais presente na solução de problemas que afetam a nação e o compromisso coletivo na busca de resiliência face aos desafios diários.

A responsabilidade pessoal e coletiva de um povo define o que é unidade nacional, porque cada cidadão se sente contemplado na definição do destino do país. O erro que se comete é a exclusão social e política, pois todo moçambicano é e deve ser protagonista.

Quando um povo está em comunhão para a construção do Estado Democrático, a magia acontece porque se verifica a superação de divergências.
Quando cada um busca somar com as suas diferenças para um bem maior indica que está a edificar a unidade nacional.

Quando o problema de uma determinada parcela do país é assumido como um desafio nacional, é sinal de que o povo está unido. Não se pode admitir pensar que o problema é do outro, pois um problema, por menor que , compromete todo povo moçambicano.

Embora os ataques terroristas sejam “uma ferida aberta e exposta”, relativamente, só em Cabo Delgado, há sinais visíveis de que há esquecimento dos problemas essenciais: justiça social, paz, emprego, educação de qualidade e formação sobre a cidadania.

Não se pode olhar o terrorismo como se fosse o problema dos outros, daqueles que diretamente sofrem.
É bom lembrar que fora do país, a notícia que circula não é um simples terrorismo de Cabo Delgado, mas de um país, todo Moçambique que é classificado como inseguro e perigoso para acolher, por exemplo, um turista ou um empresário que queira explorar o turismo. É um país em constante estado de guerra e que dessa forma não atrai investimentos.

Então, apesar de ser uma questão vivida na zona norte, porque o terrorismo desnorteia o país e impede o progresso de Moçambique, deve haver consenso de que o problema é dos moçambicanos e deve ser resolvido como um caso urgente.

Enquanto um pequeno grupo continuar a intimidar os outros porque fizeram manifestações contra injustiças, contra a corrupção e pelo elevado custo de vida, os insurgentes se aproveitam para enfraquecer a segurança nacional, desmistificando, assim, a falta da unidade nacional.

Enquanto houver improvisos na forma de construção do Estado Democrático, sem nenhum plano objetivo de desenvolvimento humano e econômico, haverá sucateamento dos valores e riquezas que o país tem. Ninguém se sentirá moçambicano enquanto um grupo está nas matas a fugir dos insurgentes e os outros a pensar que a culpa é daquelas vítimas do terrorismo.

Enquanto se investe mais tempo na exploração dos recursos naturais sem antes delinear as prioridades nacionais, os problemas que castigam o povo, como é a questão do terrorismo, continuarão.

Enquanto se persegue único inimigo, que hoje vestiu a roupa de insurgente, vai se deixando de lado os demais e grandes inimigos do povo, por exemplo, a ganância, a soberba, o individualismo, o tribalismo, o regionalismo, que vão tornando a unidade nacional um slogan esvaziado de sentido.
Não pretendemos dizer que não se deve combater o terrorismo, mas apontamos acima os demais males que não devem ser menosprezados.

Por isso, deve haver um diálogo maduro e profundo, visando identificar os reais motivos dos ataques terroristas; identificar as causas das manifestações e abandonar o paradoxo moderno em Moçambique: reconciliação e perseguição. Não se pode cantar durante o dia que existe abertura para a reconciliação nacional se no silêncio da noite há planos de silenciar quem propõe diferente e os chamados “eles”, ou seja, aqueles que não concordam com a algumas coisas que o país vive. Nunca haverá combinação entre reconciliação e perseguição porque essa contradição tira a credibilidade da unidade nacional.

O terrorismo é um dos traços de vários males que o país enfrenta.
O terrorismo denuncia a falta de paz de um povo que pensa que está unido, mas que cada um tende sobreviver isoladamente.

O desafio da unidade nacional reside na responsabilidade de todos os moçambicanos quando de forma séria, de forma contínua, o povo soma sinergias na luta contra “tudo” que prejudica o ambiente de fraternidade e moçambicanidade.

Denunciemos o terrorismo como um câncro que empobrece o país, mas também assumamos a responsabilidade de lutarmos contra os demais males que destroem a unidade nacional do povo moçambicano.

Servo inútil,

Pe. Kwiriwi, CP

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