Sociedade

Detido grupo encabeçado por ex-membros da PRM suspeitos de assaltos armados em Pemba

Por Quinton Nicuete

Pemba, Cabo Delgado – A Polícia da República de Moçambique (PRM) prendeu recentemente sete homens nos arredores da cidade de Pemba. Segundo fontes policiais, entre os detidos estão dois ex-agentes da PRM, acusados de envolvimento em assaltos à mão armada em diversas residências da cidade. Segundo as investigações policiais, o grupo utilizava armas de fogo, inclusive um fuzil AK‑47, para intimidar moradores e roubar bens, entre eles telemóveis, computadores e outros aparelhos informáticos.

De acordo com o porta-voz da PRM em Cabo Delgado, Aniceto Magome, os detidos já confessaram grande parte dos crimes e parte do material roubado, como telemóveis e equipamentos informáticos que foram recuperados. Aniceto afirmou que, com esta detenção, dá-se um passo significativo rumo ao restabelecimento da tranquilidade e da paz dos munícipes de Pemba.

O grupo, cujas acções remetem a uma organização localmente conhecida como ANA15, ou “os 15 homens”, vinha promovendo uma onda de violência urbana desde o ano passado. A sua actuação era marcada por extrema brutalidade, envolvendo abusos sexuais, tortura e roubos em série, com uso de armamento pesado.

O caso reacende preocupações sobre o impacto da guerra contra o terrorismo no norte de Moçambique, especialmente quanto à circulação de armamento pesado fora do teatro operacional. Desde o início do conflito com grupos jihadistas em 2017, centenas de armas foram capturadas ou abandonadas no campo de batalha. Embora as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), e as forças internacionais como Ruandesas e da Missão da SADC em Moçambique (SAMIM) tenham feito esforços para controlar e destruir esse arsenal, cresce o receio de que parte dessas armas esteja a ser desviada para o crime urbano.

A presença de uma AK-47 em posse de ex-policiais e civis comuns, como no caso de Pemba, levanta sérias suspeitas de que armas inicialmente capturadas ou pertencentes ao Estado estejam a cair nas mãos erradas, contribuindo para a insegurança nas zonas urbanas.

Segundo análise publicada pelo jornal Moz Today, há indícios de ligação entre redes criminosas locais e ex-combatentes ou elementos envolvidos no tráfico de armas na região. O grupo terrorista Ansar al-Sunna, também conhecido como Al-Shabaab moçambicano, tem sido acusado de financiar-se através de redes ilícitas, como contrabando, tráfico de madeira, ouro e pessoas, criando um ecossistema de instabilidade que ultrapassa as linhas de frente do conflito armado.

As armas provenientes dessas redes, ou desviadas do campo de combate, estão agora a alimentar crimes urbanos, ameaçando a segurança de cidades como Pemba, Montepuez, Palma, Mueda e Mocímboa da Praia. A situação torna evidente a fragilidade dos mecanismos de controlo de armas e da reintegração de antigos membros das forças de defesa e segurança.

Analistas defendem uma resposta coordenada entre as forças policiais, autoridades militares e parceiros internacionais, com foco na destruição segura de armas capturadas no combate ao terrorismo, rastreabilidade e inventário transparente das armas usadas pelas forças de segurança, monitoramento reforçado nas fronteiras e mercados paralelos, revisão das políticas de desmobilização e reintegração de ex-agentes e ex-combatentes, além de educação comunitária e denúncias anônimas como estratégias para recuperar armas em circulação.

A detenção deste grupo armado em Pemba é mais do que um caso policial isolado, é reflexo direto das feridas abertas pelo terrorismo em Cabo Delgado e das consequências da má gestão de armamento pesado em contexto de guerra. A fronteira entre o terrorismo e o crime comum torna-se cada vez mais tênue, colocando em risco a segurança de comunidades que já convivem com o trauma do conflito. Para restaurar a paz, não basta capturar criminosos. É preciso cortar o fluxo de armas, desmontar redes ilícitas e garantir que nenhuma AK-47 volte a destruir o sono de famílias que só pedem por segurança. (Moz24)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *