A Fragilidade de Moçambique: Entre a Resignação e a Coragem para Transformar
Professor Ngoenha, suas palavras são profundas e carregadas de sabedoria, mas elas também evocam uma reflexão necessária e urgente: até que ponto o apelo à ponderação nos protege de uma realidade brutal, em que a violência e a destruição não surgem da nossa vontade, mas da imposição de sistemas injustos e opressores?
Concordo que Moçambique é precioso, frágil como um ovo. Contudo, a fragilidade de um país não deveria ser usada para pedir àqueles que sofrem para morrer um pouco todos os dias — nas suas ideias, nos seus princípios e até na sua dignidade.
É possível construir um futuro melhor sem comprometer aquilo que nos torna humanos: a resistência à injustiça, a coragem de lutar pelo que é certo, e a recusa em aceitar a opressão como inevitável.
Enquanto apelamos à integridade e responsabilidade, também devemos nos perguntar: quem está se beneficiando do atual estado de coisas?
Não é o povo comum que destrói Moçambique, mas sim os corruptos e poderosos que pilham recursos, minam a justiça e relegam a maioria ao sofrimento.
Pedir que todos carreguem o fardo de salvar Moçambique ignora as desigualdades estruturais e as injustiças que nos dividiram como nação.
Quando o povo se levanta, não é por um desejo de violência ou destruição, mas por desespero e esperança. Desespero diante de um sistema que o oprime, e esperança de que sua voz seja ouvida. A história mostra que mudanças significativas muitas vezes surgem da ação direta e, infelizmente, da contestação vigorosa contra os sistemas que resistem à transformação pacífica.
Portanto, Professor, se queremos evitar que Moçambique “caia e se parta,” devemos ser claros:
- Não é o povo que está partindo Moçambique, mas sim a corrupção, a má gestão e a falta de justiça.
- As escolhas “ponderadas” que se pede ao povo para fazer não podem significar aceitação da opressão ou concessão à violência estrutural que perpetua o sofrimento.
- A verdadeira integridade está em falar a verdade ao poder e em exigir mudanças que devolvam o país ao povo que nele vive, trabalha e sonha.
Eu, também, quero acreditar na grandeza das nossas mentes e corações. Mas essa grandeza deve se traduzir em ação corajosa e transformadora, em vez de apenas uma paciência silenciosa.
Feliz domingo, Professor, e que juntos possamos construir um Moçambique que realmente pertence a todos nós — justo, próspero e digno.
De Nuvunguene, Adriano Nuvunga, seu antigo aluno!