O valor das tarifas a cobrar será cerca de metade do que os EUA consideram ser a soma das taxas e impostos cobrados aos seus produtos. No caso da União Europeia, onde a Administração afirma que os produtos norte-americanos são penalizados em 39%, a taxa aduaneira a implementar será de 20% sobre todos os produtos europeus. Ainda na Europa, as importações suíças serão taxadas a 31% e as do Liechtenstein a 37%.
As importações das maiores economias asiáticas serão particularmente penalizadas pelas tarifas recíprocas: 49% para o Camboja, 46% para o Vietname, 36% para a Tailândia, 34% para a China, 32% para Taiwan, 26% para a Índia, 25% para a Coreia do Sul e 24% para o Japão, anunciou Trump. Em relação à China, é ainda eliminada a isenção de taxa que vigorava em relação a produtos de baixo valor, o que penalizará plataformas de comércio online como a Temu.
No outro pólo, as importações do Lesoto e do pequeno arquipélago francês de Saint Pierre e Miquelon, ao largo do Canadá, serão taxadas a 50%.
O México e o Canadá, ficam, para já, de fora da lista dos países visados por estas novas tarifas, que têm dois tempos para serem aplicadas, apurou a Reuters: a tarifa “base” de 10% entra em vigor a partir de sábado (5 de Abril) e as restantes, acima dessa percentagem, começam a ser aplicadas a partir de 9 de Abril. À agência, fonte da Casa Branca, não identificada, adiantou que serão visados 60 países no total.
Taxas sobre automóveis a partir da meia-noite
“Estamos finalmente a pôr a América em primeiro lugar”, afirmou Trump, qualificando o anúncio desta quarta-feira a uma “declaração de independência económica” e lançando-se num longo discurso contra os principais parceiros comerciais dos EUA, e alegando que as barreiras comerciais vão gerar “seis biliões [trillions] de dólares em investimento” no país. “O dia 2 de Abril será para sempre recordado como o dia em que a indústria americana renasceu, em que o destino da América foi resgatado e que começamos a tornar a América rica outra vez”, declarou Trump num evento nos jardins da Casa Branca, em Washington, perante membros do seu Governo, da imprensa, e de sindicatos do sector industrial.
O cenário optimista traçado pelo Presidente republicano é contudo contestado pela generalidade dos economistas e pela própria Reserva Federal norte-americana, que tem alertado para o potencial impacto inflacionário da política comercial agora anunciada.
Trump confirmou também que a tarifa global de 25% sobre as importações automóveis anunciada na semana passada entra em vigor esta quinta-feira, às 00h da Costa Leste norte-americana (05h em Portugal continental), enquanto a taxa sobre os respectivos componentes será aplicada a partir de 3 de Maio.
Antecipando a reacção dos parceiros comerciais, o Presidente norte-americano desafiou-os a produzir nos Estados Unidos e a remover barreiras comerciais. “Acabem com as vossas taxas, removam as vossas barreiras, não manipulem as vossas moedas e comecem a comprar produtos norte-americanos”, disse Trump.
Von der Leyen reage na quinta-feira
As reacções internacionais ao anúncio, feito já depois das 21h em Portugal continental, são ainda escassas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que se encontra numa cimeira no Usbequistão, remeteu para a manhã desta quinta-feira a resposta do executivo comunitário. Iniciar-se-á também um período de consultas com os chefes de Estado e de governo dos 27 para avaliar a resposta europeia.
https://www.publico.pt/2025/04/01/economia/noticia/bruxelas-plano-solido-retaliar-novas-tarifas-trump-2128104/embed?FromApp=1 Do outro lado do globo, na Austrália, o primeiro-ministro Anthony Albanese considerou que as medidas anunciadas por Washington “não têm base lógica” e que “não são um acto de um amigo”. O governante trabalhista acrescentou que o seu país não irá “juntar-se a uma corrida em direcção ao fundo que levará a preços mais elevados e crescimento mais lento”, sugerindo que Camberra não deverá anunciar medidas retaliatórias.
Na América do Norte, a Presidente do México, Claudia Sheinbaum, também marcou para amanhã o anúncio de eventuais medidas retaliatórias, afastando contudo qualquer estratégia de “olho por olho” e prometendo um plano para “fortalecer a economia sob qualquer circunstância”. Ao contrário do Canadá, o México tem conseguido evitar uma escalada verbal com a Administração Trump e manteve canais de contacto abertos com a Casa Branca.
No Canadá, cuja indústria automóvel está fortemente interligada com a norte-americana, o primeiro-ministro da província de Ontário acusou o Governo dos EUA de não compreender o funcionamento das cadeias logísticas. “Isto é a coisa mais ridícula que eu alguma vez vi”, declarou Doug Ford à estação de televisão norte-americana CNBC.
O anúncio foi feito após o encerramento dos mercados bolsistas norte-americanos. Ao final da noite de quarta-feira, os índices futuros apontavam para uma abertura em forte queda da generalidade das praças internacionais na manhã seguinte.
30% de tarifa sobre produtos sul-africanos
Trump afirmou que, face aos 60% de tarifas que a África do Sul impõe sobre produtos norte-americanos, os Estados Unidos aplicariam uma tarifa recíproca de 30% sobre os bens sul-africanos importados pelos EUA. Estes produtos incluem têxteis e bens agrícolas, como frutas cítricas. Repetiu a sua alegação de que “coisas más estão a acontecer na África do Sul”.
“Estamos a pagar-lhes milhares de milhões de dólares, e já cortámos esse financiamento porque muitas coisas más estão a acontecer na África do Sul”, declarou.
O economista Miyelani Mkhabela afirmou que as tarifas de 30% estão directamente ligadas ao desentendimento diplomático entre a administração Trump e a África do Sul.
“Os Estados Unidos tornaram-se imprevisíveis, pouco fiáveis e estão a oprimir o continente africano”, disse Mkhabela.
O ministro sul-africano do Comércio e Indústria, Parks Tau, afirmou que a África do Sul procurará agendar uma reunião com responsáveis norte-americanos para discutir os últimos desenvolvimentos.
