Falando durante a conferência da Associação Africana de Refinadores e Distribuidores de Petróleo (ARDA), realizada esta semana na Cidade do Cabo, o secretário-geral da APPO, Omar Farouk Ibrahim, defendeu que as estimativas actuais de 632 biliões de pés cúbicos de gás natural e 120 mil milhões de barris de petróleo no continente são “grosseiramente conservadoras.”
O dirigente sublinhou que recentes descobertas em países como Moçambique, Nigéria, África do Sul, Senegal, Mauritânia e Gana confirmam o enorme potencial energético de África.
No entanto, segundo Ibrahim, a história da indústria energética africana tem sido marcada por decisões guiadas pelas necessidades de mercados estrangeiros, em detrimento das populações locais.
“Durante décadas, o continente aceitou que outros tivessem prioridade sobre os recursos com que Deus abençoou África. Só quando esses mesmos parceiros rejeitam os nossos produtos é que consideramos usá-los internamente”, afirmou o dirigente.
Com mais de mil milhões de africanos ainda sem acesso a energia moderna, a APPO defende que os países produtores, como Moçambique, devem assumir o controlo dos processos de exploração, desenvolvimento tecnológico e financiamento do sector. Para tal, está em curso a criação do Banco Africano de Energia, uma iniciativa continental que terá sede na Nigéria e pretende reduzir a dependência externa.
A organização apela também à construção de infra-estruturas energéticas intra-africanas, como gasodutos e refinarias, que permitam um verdadeiro mercado energético regional. No caso de Moçambique, isso significaria não apenas explorar o gás para exportação, mas também usá-lo para electrificar comunidades, desenvolver indústrias locais e fomentar a transformação do gás no território nacional.
A nova agenda da APPO inspira-se em políticas de proteccionismo económico como a recentemente adoptada pelos Estados Unidos sob o lema “America First”. Segundo o presidente da ARDA, Mustapha Abdul-Hamid, o mundo caminha para uma era de interesses nacionais reforçados, e África não pode ficar para trás: “Precisamos de soluções afrocentradas para os desafios que enfrentamos”, sublinhou. (DE)