No rescaldo das manifestações de última sexta-feira, a Polícia da República de Moçambique (PRM) continua a fabricar narrativas para justificar a sua actuação violenta e desumana que resultou em assassinatos a tiro, feridos graves, destruição de um mercado e residências, além de detenções ilegais. Violação da lei e porte de engenhos explosivos é a nova narrativa usada para legitimar a repressão violenta contra as marchas convocadas pela Renamo.
Um dia depois dos tribunais de Maputo terem mandado soltar cerca de 30 jovens que haviam sido detidos ilegalmente durante as marchas na capital, o Ministro do Interior foi à Assembleia da República afirmar que a Polícia apreendeu, nas mãos dos manifestantes, 59 engenhos explosivos. Mas até aqui a Polícia ainda não mostrou os tais engenhos explosivos de fabrico caseiro. “Registamos um fenómeno novo, de uso de engenhos explosivos de fabrico caseiro por parte dos cidadãos manifestantes. Assim, foram apreendidos de mãos alheias 59 engenhos, sendo 55 na Cidade de Maputo e quatro na cidade de Nampu-la. Isso não é civilização”, disse Pascoal Ronda, no seu primeiro discurso na Assembleia da República como Ministro do Interior.
Enquanto o Ministro responsável pela segurança pública debitava argumentos para acusar injustamente os cidadãos indefesos que saíram à rua para exercer os seus direitos de cidadania, lá fora era raptada mais uma pessoa por grupos criminosos que nunca foram alvo da violência policial. Como de costume, o rapto ocorreu em plena luz de dia no centro da Cidade de Maputo, onde é notável a presença de agentes da Polícia. Mas os raptores raramente são neutralizados pela Polícia e ontem ainda dispararam alguns tiros só para assustar os guardas que tentaram impedir a sua acção.
Não dispararam explosivos caseiros que o Ministro do Interior tentou atribuir aos manifestantes, os raptores dispararam armas de fogo que deveriam estar exclusivamente nas mãos das Forças de Defesa e Segurança. Apesar do esforço demonstrado pelo Ministro do Interior para negar que a Polícia esteja a impedir manifestações de partidos políticos que não sejam a Frelimo, os factos provam o contrário. Não há registo de marcha convocada pela Frelimo, em qualquer cidade ou vila moçambicana, que tenha sido impedida, interrompida ou reprimida pela Polícia. Não há gás lacrimogéneo, não há disparos, não há detenções. Aliás, a presença da Polícia visa proteger as pessoas envolvidas nas marchas do partido no poder.
O mesmo já não se pode dizer em relação às marchas convocadas pela oposição. A Polícia mobiliza as suas unidades especiais e ordena o uso da violência para impedir, interromper ou reprimir as marchas. O uso de gás lacrimogéneo e de armas de
https://opais.co.mz/apreendidos-59-engenhos-explosivos-caseiros-durante-detencoes-ligadas-a-marchas/
fogo é quase uma obrigação. Sempre há detidos. E o Ministro do Interior fala de 237 pessoas detidas em 130 manifestações relacionadas com o processo eleitoral. O que o Ministro não disse é que a maioria dessas detenções foram ilegais, infundadas e injustas, por isso em Maputo os tribunais mandaram soltar jovens porque os autos de notícia elaborados pela Polícia para os incriminar foram considerados inválidos.
Como consequências, Pascoal Ronda apontou para a morte de uma pessoa em Cabo Delgado e o ferimento de outras 29 pessoas, incluindo quatro membros da Polícia, com destaque para um teve de ser amputado o antebraço. Em relação ao assassinato ocorrido em Cabo Delgado, concretamente na autarquia de Chiúre, é preciso esclarecer que a vítima foi atingida por balas disparadas pela Polícia .
E não foi só em Chiúre: em Nampula foram reportados seis óbitos nas manifestações de sexta-feira, “Registamos um fenómeno novo, de uso de engenhos explosivos de fabrico caseiro por parte dos cidadãos manifestantes. Assim, foram apreendidos de mãos alheias 59 engenhos, sendo 55 na Cidade de Maputo e quatro na cidade de Nampula.
Isso não é civilização” todos causados pela Polícia.
Na sua comunicação, o Ministro do Interior fez referência à destruição de 139 bancas e de uma residência, além de danos registados em 21 viaturas.
Mas omitiu o verdadeiro responsável pelos danos: A PRM. Foi a Polícia que provocou o incêndio no mercado “Soares” em Nampula, e que resultou na destruição de 164 bancas 43 barracas, e mais cinco casas.
“A Polícia chegou e começou a disparar descontroladamente. Queimaram todo o nosso mercado e casas de algumas famílias que vivem ali próximo. Isso ocorreu pelas 10 horas. Assim não temos espaço para vender, porque todo mercado foi reduzido a cinzas”, contou ao Ikweli o chefe do mercado“Soares”, Maximage Abudo.
Os danos nas viaturas foram provocados, na sua maioria, pelos disparos efectuados pela Polícia.
O novo Ministro do Interior deveria usar a sua primeira aparição na Assembleia da República para apresentar um discurso mais conciliador, onde condena os excessos da Polícia, lamenta a morte de inocentes e pede desculpas às famílias enlutadas, promete investigar e responsabilizar os agentes que agiram fora dos limites impostos pela lei.
No lugar de embalar em narrativas que procuram legitimar a repressão violenta das marchas, Pascoal Ronda trabalhar para resgatar a imagem e a credibilidade da Polícia, demostrando aos moçambicanos que a Polícia subordina-se à lei e serve os interesses da Nação e não do partido Frelimo. (CDD/Moz24h)
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