Por Quinton Nicuete
Em Cabo Delgado, milhares de famílias enfrentam diariamente a falta de acesso a estradas transitáveis, escolas adequadas e serviços básicos. Em muitas comunidades, crianças estudam em salas improvisadas, sem carteiras nem material escolar, enquanto adultos lutam para sobreviver com trabalhos informais ou arriscam a vida em garimpos ilegais. A pobreza é visível, e a sensação de abandono é constante.
Durante uma sessão extraordinária com o Conselho Executivo da província, deputados da II Comissão do Plano e Orçamento da Assembleia da República denunciaram o contraste gritante entre o sofrimento da população e os lucros bilionários de empresas de mineração como Montepuez Ruby Mining, Mina de Grafite de Balama e Fura Gems.
Segundo os parlamentares, a sociedade civil é sistematicamente excluída dos processos de planeamento, comprometendo o desenvolvimento sustentável da província. Nelson Guirrungo alertou que a população não é consultada, não participa das decisões e paga o preço da exclusão.
Guirrungo criticou duramente o impacto da exploração de recursos minerais. Cabo Delgado é rica em minerais, mas as comunidades vivem à margem dos lucros. Em algumas áreas, moradores recorrem ao garimpo ilegal, arriscando a vida em minas irregulares. Muitos acabam presos, mortos ou vítimas de acidentes ou baleiamento, enquanto estrangeiros dominam actividades e negócios paralelos nos garimpos.
Ricardo Tomás denunciou a precariedade das estradas. De Pemba a Montepuez, a via é quase intransitável. As empresas mineradoras não investem em manutenção, apesar de faturarem biliões. Tentativas de diálogo com elas são ignoradas, com respostas evasivas que geram revolta. Tomás sugeriu que o Governo Provincial pressione as mineradoras a investir em infraestrutura e serviços básicos para a população.
Inocêncio Fane Joaquim destacou que a responsabilidade social das empresas é mínima. A Montepuez Ruby Mining opera no país desde 2014 e, em 2025, só construiu três escolas com 10 blocos de salas de aula. Nos arredores da mina, não há desenvolvimento que justifique a exploração dos recursos. Os processos de reassentamento das comunidades são confusos e injustos, com pagamentos por hectare discrepantes e população descontente.
Fane alertou que as empresas precisam ser fiscalizadas e pressionadas. A Fura Gems, por exemplo, opera grandes áreas, mas não reabilita estradas de acesso às suas minas. A falta de investimento social e de infraestrutura agrava o sofrimento da população e coloca em xeque a legitimidade das operações de mineração em Cabo Delgado.
Enquanto empresas faturam biliões, as populações continuam a lutar para ter o mínimo essencial. A situação evidencia a necessidade urgente de políticas que assegurem benefícios diretos às comunidades e uma fiscalização rigorosa das operações de mineração. Moz24h
