© Lusa
“Sabe-se muito bem que a nível do partido Renamo existem militantes que tem conhecimento sobre o uso de material bélico e aproveitaram-se desse conhecimento para fabricar bombas caseiras para usar contra a polícia no momento em que estivesse a fazer a reposição da ordem e segurança pública”, disse Zacarias Nacute, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, norte do país, durante uma conferência de imprensa.
Segundo a PRM, as bombas caseiras, supostamente fabricadas pela Renamo, atingiram um agente da Unidade de Intervenção Rápida e que, em consequência dos danos causados pelo engenho, teve de ser submetido a amputação de um braço.
O porta-voz da polícia avançou que as bombas terão sido fabricadas pelos dirigentes da Renamo, na delegação provincial do partido em Nampula, referindo que existem matérias suficientes para a responsabilização dos autores.
“Esta é uma informação que confirmámos após a apreensão de alguns engenhos que se encontravam na delegação, assim como os restos do engenho que feriu o membro da polícia”, referiu Zacarias Nacute.
De acordo com a polícia moçambicana, pelo menos 101 pessoas foram detidas nas cidades de Nampula e Nacala-Porto, onde decorreram as manifestações, e estão em curso processos-crime “pelos danos causados e pela desestabilização da ordem pública” naqueles municípios.
A PRM avançou que neste momento a situação na província está “calma e controlada”.
A Lusa contactou a Renamo para esclarecimentos, mas não teve resposta.
O principal partido da oposição tem promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada “megafraude” no escrutínio.
Na cidade de Maputo, a polícia moçambicana fez vários disparos de gás lacrimogéneo sobre milhares de pessoas que marchavam em protesto dos resultados.
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), uma Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que observa as eleições, um agente da polícia e um jovem morreram durante manifestações ocorridas em Nampula e em Nacala contra os resultados das eleições autárquicas.
Estas mortes não foram ainda confirmadas pelas autoridades que tem admitido, no entanto, que houve feridos e detidos durante as escaramuças.
Nas duas cidades, o comércio paralisou, com os mercados e estabelecimentos comerciais encerrados.
Os resultados do escrutínio, apresentados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, indicam uma vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, em 64 das 65 autarquias do país, enquanto o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, ganhou apenas na Beira, zona centro.
De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados das eleições ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país no dia 11 de outubro, incluindo 12 novas autarquias, que pela primeira vez foram a votos.