Economia Sociedade

Movitel Retira Equipamentos de Antena e Isola Comunidades de Ancuabe em Meio a Ataques Armados

Por Quinton Nicuete

Um grupo de supostos técnicos da operadora de telecomunicações Movitel deslocou-se, no início deste ano, à aldeia de Miegane, no posto administrativo de Meza, distrito de Ancuabe, em Cabo Delgado, para desmontar os equipamentos instalados na torre de comunicação local — incluindo dispositivos que permitiam a conexão via satélite. Desde então, milhares de residentes das aldeias de Miegane, Nkole, Ngura e Nonia estão completamente privados de qualquer forma de comunicação.

Segundo relatos de moradores, os técnicos vestiam camisetas com o logotipo da empresa e chegaram em viaturas com a marca Movitel, o que deu credibilidade à sua missão. Eles afirmaram que os equipamentos seriam retirados para posterior substituição por dispositivos mais modernos. No entanto, passados vários meses, a reposição prometida nunca aconteceu.

“A antena lá está, mas está morta. Levaram tudo o que faz a rede funcionar. Agora, se alguém quiser comunicar, tem que andar quilómetros até onde há sinal. Estamos com as mãos cruzadas”, lamentou um líder comunitário de Miegane.

A torre de Miegane desempenhava um papel fundamental ao garantir cobertura para um vasto raio, desde a zona de Montepuez até as extremidades de Nkole e Ngura. Hoje, essas localidades vivem em total isolamento informativo, agravado pelo aumento da violência armada na região.

Desde 31 de março deste ano, vários ataques armados devastaram aldeia de Nonia, Miegane, Nkole e Ngura resultando em cinco mortes confirmadas e destruição de várias habitações incluindo um centro de saúde, duas igrejase roubo de cerca de 15 motorizadas. Os ataques criaram pânico nas comunidades vizinhas, mas sem rede móvel, os moradores não puderam pedir ajuda, informar autoridades ou sequer alertar os seus familiares.

“Quando começaram os tiros, tentamos ligar para alguém, mas não deu. Ficamos à espera, sem saber se fugíamos ou se ficávamos escondidos. É uma sensação de impotência”, relatou uma jovem deslocada de Nonia.

A ausência de explicações por parte da Movitel e das autoridades locais está a gerar indignação. Muitos moradores acreditam que a retirada dos equipamentos foi motivada por questões de segurança da empresa, dada a instabilidade crescente na região. No entanto, não houve qualquer pronunciamento oficial que esclareça a situação ou ofereça soluções imediatas.

“Nem os líderes comunitários sabem o que fazer. Já reportámos, pedimos, mas ninguém responde. Parece que não existimos para o governo nem para a operadora”, desabafou outro residente. (Moz24h)

 

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