Por Luis Nhachote
Uma vez mais a minha tia Carlota, pediu para lhe informar que sobreviveu, por obra e graça de desígnios insondáveis aos sete dias das manifestações. Nos dois últimos dias da greve, ela não conseguiu meter alimentos no estômago, senão água. “Mas nao morri”
Ela acompanhou a tua última “live”, no qual pedes que nos preparemos para dias “duros e muito difíceis” a partir do anúncio que farás hoje. Ela diz que a vossa mensagem é poderosa, mas lacônica. Acredita ela que a convocação para enfrentar momentos desafiadores deve ser acompanhada de direções precisas: como iremos garantir que o direito à vida seja preservado num contexto em que se fala de uma centena de mortos? Como assegurar que, mesmo em tempos de luta intensa, os direitos básicos dos cidadãos não serão
ignorados? Como é que pessoas como ela irão aguentar sem o comércio informal de que dependem?
VM7, A história mundial nos ensina que movimentos de resistência bem-sucedidos não se fazem no improviso. Em 1955, durante o boicote aos autocarros de
Montgomery, nos Estados Unidos, a resistência pacífica liderada por Martin Luther King Jr. foi planificada com etapas claras e precisas. Na África do Sul, o movimento anti-apartheid sob a liderança de Nelson Mandela seguiu uma trajectória estratégica que respeitava os direitos humanos, mesmo nos momentos mais críticos.
Em ambos os casos, houve uma comunicação clara sobre os objetivos e métodos a serem empregados. Venâncio, precisamos do mesmo nível de transparência e clareza.
Mano Venancio
A tia pede, encarecidamente, que na “live” de hoje seria o momento ideal para esclarecer esses pontos, permitindo que cada cidadão planifique a sua vida de acordo com o movimento. Lembrando que, mesmo nos momentos de maior confronto, existem direitos que são inalienáveis.
A assistência médica, por exemplo, deve ser uma prioridade. Como garantirmos que os doentes tenham acesso aos cuidados necessários durante os dias de greve? É essencial que haja “corredores humanitários” que permitam o funcionamento de serviços de saúde, como hospitais e clínicas, sem interrupções.
O direito à vida e à saúde não podem ser danos colaterais na luta por justiça social. Nos últimos dias, vários jovens foram presos pela polícia enquanto voltavam para casa, vítimas de detenções arbitrárias e sem justificação.
Além disso, houve casos de jovens baleados, simplesmente por estarem no lugar errado à hora errada, vítimas de uma repressão policial desproporcional e irresponsável. Estes episódios sublinham a importância de um movimento de resistência que, apesar da sua força e urgência, não deve ignorar as necessidades reais de quem precisa de se deslocar, seja para o trabalho, cuidados médicos ou outras razões essenciais.
Mano VM7
A minha tia acredita ser crucial que, mesmo no calor da luta, saibamos distinguir entre os que se juntam ao movimento por justiça e aqueles que têm necessidades legítimas que não podem ser negligenciadas.
Além disso, existe a necessidade de proteger os interesses daqueles que confiaram em ti e te elegeram como representante das suas aspirações de mudança. Isso envolve garantir que negócios, propriedades e bens pessoais dos cidadãos não sejam afetados de forma desproporcional durante as manifestações. A tua liderança depende da confiança dos seus apoiadores, e essa confiança só será mantida se houver um compromisso claro de que os seus interesses estarão salvaguardados.
Venâncio, o sucesso desta luta depende da tua capacidade de liderar com responsabilidade, respeito e clareza. A luta por justiça é legítima, mas deve ser conduzida com responsabilidade, garantindo que mesmo nos momentos mais difíceis, os direitos fundamentais sejam preservados.
A tia Carlota, tem forte crença de que nesta fase com excessos em exponencial e aproveitamento dos “inimigos” da revolução ou da busca da justiça eleitoral, possa servir de pretexto para a convocação do Estado de Emergência. E desse modo o incumbente se manterá no centro do poder, diluindo assim as hipóteses do povo tomar o poder.
Um abraco