Opiniao

JORNALISMO DE VASSALAGEM

 

Por: Castro Cleiton

Há um tipo de jornalismo que se veste de neutralidade, mas serve de espelho para o poder. Um jornalismo que se ajoelha diante das autoridades, dos financiadores e dos interesses ocultos que o alimentam. É o jornalismo de vassalagem, aquele que trocou a verdade pela conveniência, a coragem pela sobrevivência e o compromisso público pelo favor político.

O problema não está apenas nas redações que se calam. Está também nas consciências que se vendem. Há quem ainda confunda prudência com submissão e ética com obediência cega. E assim, aos poucos, o jornalismo deixa de ser farol e torna-se cortina: encobre em vez de iluminar.

A vassalagem começa de forma discreta. Um título que suaviza o erro de um dirigente. Uma notícia que omite o sofrimento de quem não tem voz. Um jornalista que aprende a não perguntar. Depois, torna-se rotina. O silêncio vira norma. O medo transforma-se em método. E quando o jornalismo se habitua a servir o poder, deixa de servir o povo, até aí “já era”.

Não há democracia que resista sem uma imprensa livre, nem liberdade que floresça sem jornalistas capazes de desagradar. Porque a função do jornalismo nunca foi agradar, foi questionar, desconfiar e confrontar. Mas, no tempo em que vivemos, a bajulação tem sido premiada e a ousadia punida.

O jornalismo de vassalagem não é apenas uma traição à profissão; é uma traição ao futuro. Porque quando o jornalista perde a coragem, o povo perde a verdade. E sem verdade, tudo o que resta é propaganda.

O verdadeiro jornalismo não pede licença para existir. Ele nasce da inquietação, cresce no desconforto e sobrevive na coragem de dizer o que muitos preferem esconder. Ser jornalista não é ser vassalo. É ser voz. É ser consciência. É ser memória. (Moz24h)

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