Por Josué Bila
Esse vídeo representa o que factualmente são os Estados africanos e suas elites, sem esquecer de algumas satélites diaspóricas do nosso continente, a exemplo do Haiti.
A suposta mãe é o Estado violador, torturador e assassino, sem funcionamento das suas instituições para a reparação das injustiças cometidas pelos seus agentes. A menina é a vítima da violência do Estado ou representa os milhões de indivíduos desprovidos de Justiça: ela grita, grita e grita. Quem a socorrerá? Quem veio/vem ao nosso socorro em meio às violências variadíssimas? Gritaremos para que os produtos de primeira necessidade baixem de preço. O Estado nos socorrerá? Gritaremos pelo transporte público. O Estado nos socorrerá? Gritaremos pela qualidade de educação e saúde. O Estado nos socorrerá? Não é casual que a maioria das pessoas que sofrem de demência em todo mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde, são negros. No caso moçambicano, não conhecemos ninguém das elites políticas que sofra de demência, porque não lhes falta o pão, as três refeições, a saúde e a educação de qualidade, o transporte e os motoristas, até mesmo ironicamente para ir à casa de banho. Sim, a falta desses bens, direitos e privilégios é apontado como uma das causas para a demência. Causa-me “demência” quando vejo moradores de rua em São Paulo (Brasil) com condições alimentícias e sanitárias melhores que de um funcionário público (de baixo e médio escalão) em Moçambique. Somos brutalmente violentados já antes do nascimento – e durante a vida. É só imaginarmos as condições nas quais se encontram as nossas unidades sanitárias e escolares; os nossos bairros, os nossos subúrbios e regiões rurais… Escreveriamos milhares de páginas sobre o assunto. Porém (…)
A casa, onde a menina é violentada, sem condições para viver (apenas uma sobrevivência sem direitos de cidadania) e o quintal são as nossas infra-instruturais sociais e algumas instituições burocráticas, as quais perdem até documentos numa eventual caída de gotas de água da chuva…
Há nesse habitat da violência aquilo que os teóricos chamam de violência estrutural. Prefiro no plural: violências estruturais. É assim que milhares de nós africanos sobrevivemos. Até quando aguentaremos?
Quando lutamos pelos direitos humanos não o fazemos por capricho, nem por fama, nem por arrogância intelectual e nem tão pouco porque nos arrogamos de saber quais são os deveres do Estado e o que é mais justo para a sociedade. É porque está cravada em nós a humanidade ética, a qual não está desenvolvida na “alma política” de alguns babaquaras que nos governam por toda África – babaquaras que se interessam em importar roupas interiores luxuosas de Dubai, mas não reside neles um pingo de vergonha por o salário mínimo não ser capaz de se manter até ao sétimo dia depois do pagamento. É preciso também enfatizar que a “alma desumana” carcome aos mais empobrecidos, como essa senhora, cuja violência brada aos Céus.
Defendamos os direitos humanos.
Defendemos a dignidade humana.
Defendamos o Estado de Direito.