A região noroeste da província do Niassa pode ser rica em hidrocarbonetos, principalmente gás, indica um novo estudo geológico, realizado por uma equipa liderada por Nelson Nhamutole, estudante de doutoramento na Universidade de Witwatersrand (África do Sul). A zona estudada corresponde à Bacia de Maniamba, há muito identificada nos mapas da geologia moçambicana. O trabalho publicado no South African Journal of Geology indica que “pode ser uma grande fonte de gás natural”. As camadas de rochas da bacia tiveram origem numa época da pré-história, do Pérmico ao Triássico Inferior. Foi uma era há cerca de entre 299 a 251 milhões de anos, em que houve grandes mudanças na Terra. O Pérmico foi palco da formação do supercontinente Pangeia e terminou com uma extinção em massa, eliminando cerca de 96% das espécies marinhas e 70% das terrestres. O Triássico Inferior começou com a recuperação da vida, com a diversificação de novos grupos de plantas e animais, incluindo os primeiros dinossauros, estabelecendo a base para o domínio dos répteis no Mesozoico. É por isso que estas camadas são consideradas ricas em material orgânico capaz de se ter transformado em gás natural, preso entre as rochas.
Indícios geológicos sugerem gás
No cerne deste grande potencial energético valioso está o “querogénio”, a matéria orgânica presa entre as rochas que, sob as condições térmicas certas, pode transformar-se em gás natural e óleo. O estudo identificou esta substância, sugerindo que a matéria orgânica é principalmente de origem terrestre. Isto aponta para uma paisagem outrora exuberante com vegetação típica do ecossistema de Gondwana, um continente antigo. O que antes foi uma extensa cadeia de seres vivos transformou-se sob a pressão de quilómetros de solo e agora é fonte de potenciais reservas de gás.
A vida desta matéria orgânica até ser convertida em hidrocarbonetos é uma questão de maturação. As rochas analisadas na pesquisa dão sinais de grande maturação, principalmente por causa de actividades tectónicas e pela proximidade de magma, a lava que vemos nos vulcões, mas que, neste caso, movimenta-se debaixo da superfície da Terra, arrefece e solidifica antes de alcançar a superfície. Este nível de maturação, integrado com a análise do tipo de matéria orgânica, indica a capacidade de a bacia guardar reservas de gás natural em vez de petróleo, uma indicação que pode ser importante para futuras estratégias de prospecção.
Novas pesquisas em perspectiva
A descoberta do potencial de reservas de gás natural pode ser um passo importante para a exploração energética, mas é apenas um primeiro passo, muito inicial. A equipa reconhece a necessidade de investigações adicionais para desvendar completamente as características da bacia. Estudos avançados, com análises geoquímicas e geológicas, são essenciais para mapear um eventual caminho do potencial à produção.
“Os dados de avaliação das rochas por si só não podem esclarecer totalmente as fontes potenciais de petróleo e gás, por isso precisamos de usar outros métodos,” diz Nelson. “Na minha futura pesquisa, planeio combinar várias técnicas, incluindo o estudo dos tipos de material orgânico nas rochas, examinando pólen e esporos, observando fósseis e analisando os elementos presentes para aprender mais sobre o potencial das rochas na Bacia de Maniamba, província de Manica. Além disso, será útil descobrir a idade das camadas rochosas ao observar quando certos microfósseis aparecem”.
A confirmar-se a presença do gás do Niassa, o País consolida-se entre os mercados com maior potencial do mundo.
Texto: Universidade de Witwatersrand • Fotografia: Wits University