Uma nova investigação científica, publicada na revista Frontiers in Marine Science, revela pela primeira vez como a variabilidade ambiental influência a distribuição de elasmobrânquios – essecialmente tubarões e raias – na região sul de Moçambique, no Oceano de Bazaruto.
Esta região é reconhecida como um dos quatro pontos globais críticos para elasmobrânquios endémicos e ameaçados, com o Canal de Moçambique a servir como um dos mais importantes corredores migratórios para megafauna marinha em todo o Oceano Índico.
O estudo, veiculado pelo Bazaruto Center for Scientific Studies (BCSS), detalha os factores espaciais, temporais e ambientais que afectam o uso de habitats de recife por elasmobrânquios no sul de Moçambique, do Oceano Índico Ocidental (WIO), uma via de migração crucial para espécies megafaunais de topo.
Os resultados destacam recifes específicos ao largo das costas da parte sul da província como habitats críticos para várias espécies de elasmobrânquios. Compreender os padrões de movimento e uso de habitat dos tubarões e raias é vital para informar estratégias de conservação eficazes.
“Todas as espécies monitorizadas foram significativamente mais abundantes em recifes muito específicos na região pesquisada. Foi também observado que a presença das diferentes espécies dependia de regimes de maré, fases da lua e mudanças sazonais na temperatura da água”, explica o Dr. Mario Lebrato, Cientista Chefe do BCSS e co-autor do estudo, liderado pelo candidato a doutoramento Calum Murie, Director da Underwater Africa. Estudos de séries temporais de longo prazo são essenciais para compreender verdadeiramente a variabilidade ambiental e as preferências de habitat.
Através de análises estatísticas robustas, o estudo demonstrou que parâmetros espaçotemporais e ambientais influenciam de maneira semelhante as visitas aos recifes por espécies de géneros elasmobrânquios relacionados. Analisando transectos visuais de mergulho e gravações de vídeo em 16 locais de recife ao longo de um período de quatro anos, a equipa concluiu que três espécies de raias mobula formaram um grupo comportamental, enquanto outras três espécies de tubarões formaram outro.
As visitas das raias mobula ocorreram principalmente na região sul da área de estudo, durante meses específicos em fases de lua cheia ou nova. As raias manta de recife (M. alfredi) e as raias diabo de barbatana curta (M. kuhlii) foram registadas com mais frequência em Outubro, enquanto as raias manta oceânicas (M. birostris) visitaram mais frequentemente em Maio. Por outro lado, as visitas de tubarões foram registadas com maior frequência de forma sazonal. Os tubarões de recife de ponta branca (T. obesus) e os tubarões de recife cinzentos (C. amblyrhynchos) foram avistados durante as épocas de água quente, enquanto os tubarões zebra (S. tigrinum) visitaram quando a temperatura da água estava mais fria.
Das 21 espécies de elasmobrânquios encontradas, 76% são classificadas como vulneráveis, em perigo ou criticamente em perigo globalmente segundo a Lista Vermelha da IUCN, com apenas uma espécie sendo quase ameaçada, uma de menor preocupação e três deficientes em dados. Nenhuma destas espécies foi avaliada para o estado de conservação regional.
Agrupar as espécies de elasmobrânquios com base nos factores que influenciam os seus padrões de uso dos recifes é útil para a gestão das suas comunidades. Proibir a pesca destas espécies nos recifes onde se reúnem e ajustar as regulamentações de pesca conforme os seus movimentos e uso de habitat pode beneficiar significativamente a comunidade regional de elasmobrânquios.
Os tubarões e raias na região do WIO desempenham um papel significativo nas pescarias de pequena escala, proporcionando segurança alimentar e meios de subsistência para as comunidades costeiras vulneráveis, que dependem fortemente da renda proveniente da venda de barbatanas e da proteína que fornecem. Infelizmente, a falta de informações ecológicas para muitas espécies dificulta a sua gestão e protecção eficazes, sublinhando a importância deste estudo.
O BCSS está actualmente a analisar séries temporais decenais de avistamentos de megafauna de mais de 50 espécies (incluindo tubarões e raias) no Arquipélago de Bazaruto – Observatório Oceânico, para entender os padrões contra o clima, mudanças ambientais e pressão sobre o habitat. Outro estudo recente, publicado na Nature Scientific Reports com o envolvimento do Observatório Oceânico do BCSS em logística de investigação e recolha de dados, destacou a importância das águas na província de Inhambane e na paisagem marinha de Bazaruto como habitats críticos para tubarões galha-preta oceânicos (C. limbatus) e tubarões-touro (C. leucas).

Fotos: BCSS