Por: Quinton Nicuete | Moz24h
A Universidade Rovuma (UniRovuma), através do Instituto Superior de Recursos Naturais e Ambiente (ISRNA), em Montepuez, província de Cabo Delgado, expulsou oficialmente dez docentes acusados de práticas gravíssimas de abuso de poder, corrupção académica e violência sexual contra estudantes.
A decisão foi tomada após a conclusão de uma sindicância interna que confirmou fortes indícios de que os docentes exigiam favores sexuais ou pagamentos em dinheiro, o valor de até 2.500 meticais, como condição para atribuir notas positivas nas suas disciplinas. A medida, segundo o comunicado oficial da universidade, visa proteger a integridade académica e os direitos humanos dos estudantes, especialmente das mulheres, principais vítimas do escândalo.
Os docentes expulsos são: Aires de Apriz Niperia, Andalito Romão Giltina João, Assane Meneses António Joaquim Saraiva, Cistélio Armando Pequenino Muando, Costa Alberto Rui, Mário Januário Adolfo, Sacadura Simão Salvador, Saide Daniel Aligora e Talassamo Saide Ali.
O caso ganhou visibilidade nacional após a divulgação de vídeos nas redes sociais, onde estudantes e ativistas denunciaram as práticas recorrentes de chantagem sexual e extorsão. Um desses vídeos, protagonizado pela ativista social, expõe com veemência o comportamento de um dos professores, acusando-o de obrigar estudantes a escolher entre relações sexuais ou reprovação.
“Estes senhores não podem continuar a usar o seu poder para ter relações sexuais com meninas. Meninas que só querem estudar e ser alguém na vida”, declarou Ana Malala no vídeo viralizado no Facebook e TikTok.
A administração da UniRovuma reagiu de forma enérgica. Num comunicado público, assinado pelo reitor da universidade sublinhou que os docentes foram expulsos com efeito imediato e que suas avaliações e responsabilidades foram redistribuídas entre outros professores isentos de qualquer ligação ao escândalo. A universidade assegura ainda que continuará a reforçar os mecanismos de denúncia e proteção dos estudantes.
“A UniRovuma reafirma seu compromisso com a ética, a justiça e a proteção dos direitos dos estudantes. Não será tolerado qualquer comportamento que comprometa a dignidade humana e o bom nome da instituição”, lê-se no comunicado.
Entretanto, Cistélio Muando, um dos docentes expulsos, disse ao Moz24h que desconhece os crimes de que é acusado. Segundo ele, a comissão de inquérito apenas conversou com alguns estudantes e ainda é aguardada uma nova equipa para dar seguimento ao caso. Muando rejeita categoricamente a possibilidade de expulsão.
“Nós não fomos expulsos e nunca seremos. O que houve foi uma sindicância incompleta”, afirmou, numa tentativa de se defender publicamente.
A expulsão dos dez docentes foi recebida com alívio e indignação por parte de vários sectores da sociedade moçambicana. Organizações de defesa dos direitos das mulheres e estudantes exigem que, para além da expulsão administrativa, sejam abertos processos judiciais criminais contra os acusados. Pedem ainda apoio psicológico e jurídico às vítimas, muitas das quais continuam com medo de falar por receio de represálias.
Este escândalo, embora grave, não é isolado. Ele revela um problema estrutural e enraizado no ensino superior moçambicano: a cultura do silêncio, a impunidade e o abuso de poder académico. Segundo dados da Comissão de Ética Universitária, casos de assédio sexual nas universidades têm aumentado, mas poucos são formalmente denunciados.
A decisão da UniRovuma representa, segundo especialistas em educação, um marco institucional e um passo concreto para restaurar a confiança na academia.
A expulsão dos dez docentes da UniRovuma marca um momento de viragem na luta contra a corrupção e o assédio sexual nas universidades moçambicanas. Mais do que uma punição exemplar, é um grito coletivo contra a impunidade, uma exigência de justiça para estudantes que sonham com um futuro sem medo, coação ou abuso.
O desafio que se impõe agora é garantir que nenhuma estudante em Moçambique volte a ser obrigada a negociar o seu corpo por uma nota. A educação deve libertar, não aprisionar. (Moz24h)