Por Quinton Nicuete
A província de Cabo Delgado enfrenta uma crise de combustível sem precedentes, com potencial para causar o colapso completo das atividades econômicas e sociais. A interrupção da circulação na estrada EN1, na região de Nampula — principal via de abastecimento que conecta o porto de Nacala à capital provincial, Pemba — está na origem do problema. Desde a passagem do ciclone Jude, que destruiu trechos da estrada, a reposição dos estoques de combustível está comprometida, e o cenário é cada vez mais caótico.
Pemba, principal cidade e centro econômico da província, possui 18 postos de combustíveis. No entanto, grande parte desses estabelecimentos está com os tanques vazios, e os poucos que ainda possuem alguma reserva enfrentam longas filas de veículos e pessoas desesperadas para conseguir ao menos alguns litros.
A situação tem sido agravada pela atuação de oportunistas, que aproveitam a escassez para aumentar os preços do transporte, prejudicando ainda mais a população. De acordo com moradores, apesar de os preços oficiais dos combustíveis não terem sofrido alterações, os chamados “chapeiros” — motoristas de transportes semicoletivos — elevaram as tarifas de 10 para 20 meticais. Da mesma forma, os taxistas, tanto de mototáxis quanto de carros, também aumentaram os preços, justificando que passam muitas horas nas filas para abastecimento.
A população, indignada, considera a prática um abuso e acusa os transportadores de estarem a explorar a crise para obter lucros injustos. “O Xitsungo’ não pode aceitar ser roubado por esses oportunistas. Se não querem circular, que deixem os carros em casa”, protestou um residente local, acrescentando que a responsabilidade pela crise não deve ser transferida para o cidadão comum.
Nos mercados paralelos, aproveitadores vendem combustível a preços exorbitantes. Um litro de gasolina, que deveria custar 85,67 meticais, está sendo comercializado por até 500 meticais, enquanto meio litro chega a custar entre 100 e 250 meticais. Para muitos moradores, abastecer o veículo, a motorizada ou garantir combustível para geradores tornou-se um luxo inalcançável.
Além da crise de combustível, há uma preocupação crescente com a possível ruptura no fornecimento de alimentos e outros produtos de primeira necessidade. A interrupção do transporte público e o aumento dos preços afetam diretamente a circulação de mercadorias essenciais, como alimentos e medicamentos.
Nos distritos vizinhos, que dependem diretamente do abastecimento de Pemba, a situação é ainda mais preocupante. Regiões como Ancuabe, Metuge, Mecúfi, Quissanga, Muidumbe, Chiúre, Montepuez, Mocímboa da Praia, Nangade, Palma, Mueda e Macomia estão à beira do colapso, já que dependem exclusivamente da capital provincial para o fornecimento de combustíveis e produtos básicos.
Agricultores e comerciantes relatam dificuldades para escoar a produção e manter atividades básicas, colocando em risco a segurança alimentar e o abastecimento de produtos essenciais.
A destruição de uma ponte crucial para o abastecimento de combustível em Pemba levantou questionamentos sobre a qualidade da obra e possíveis irregularidades no processo de construção. “O governo deve se responsabilizar por construir pontes de qualidade e não a baixo custo, comprometendo a segurança da população”, afirmou um morador.
Foto: Quinton Niquete/Minoz Hassam
Minoz Hassam, proprietário de postos de combustíveis em Pemba, destaca que a incerteza sobre a reabertura da EN1 agrava a crise e deixa empresários e moradores sem perspectivas de alívio.
“Estamos racionando o que resta para que mais pessoas possam ter acesso, mas não há garantia de reposição. Se a estrada não for reaberta rapidamente, não teremos como manter o fornecimento”, alerta Hassam.
A população de Cabo Delgado clama por uma solução urgente e efetiva para evitar o completo colapso da província. É necessário que as autoridades locais e nacionais tomem medidas rápidas para desbloquear a EN1 e garantir o abastecimento emergencial, especialmente para os distritos mais vulneráveis e isolados.
Sem uma ação imediata, os impactos sociais e econômicos poderão se agravar drasticamente, colocando em risco milhares de vidas que dependem do combustível para garantir transporte, geração de energia e atividades econômicas básicas. O apelo é claro: as autoridades precisam agir com urgência para evitar uma tragédia de proporções alarmantes.
Foto: Quinton Niquete
Não seria a via marítima uma saída urgente por parte do governo do dia!? (Moz24h)