Fanile Shongwe, director-executivo da Banca de Investimento do Standard Bank na África do Sul, revelou na primeira conferência ESG Talks quais as áreas prioritárias para o banco, aquelas que ajudam a impulsionar a agenda ESG e a criar uma plataforma para que África participe na transformação global
Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
Fanile Shongwe, director-executivo da Banca de Investimento do Standard Bank, na África do Sul, chama a atenção para os sete pilares em que a instituição aposta para investir nos três domínios da sustentabilidade – Ambiental, Social e de Governança (ESG).
O banco reforça no financiamento de projectos que abracem a inclusão financeira, o crescimento e criação de empresas, as infra-estruturas, o desenvolvimento africano, a mitigação dos efeitos das alterações climáticas, a educação e a saúde. “Estas são as áreas prioritárias para o banco, as áreas que ajudam a impulsionar a sua agenda ESG e a criar uma plataforma para que África tenha uma visão global. Assim, o financiamento sustentável apoia, basicamente, a concretização de todos os sete pilares”, destacou Fanile Shongwe, terceiro orador a intervir na primeira conferência ESG Talks, realizada a 1 de Novembro, em Maputo.
O director-executivo lida diariamente com a discussão acerca de critérios de sustentabilidade e conhece a escala global. Perante os participantes, apresentou número elucidativos. Até à data, o financiamento global orientado por critérios ESG ultrapassou os seis biliões de dólares, ou seja, duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB) da Índia ou do Reino Unido. Mesmo ao nível de dossiês mais específicos, as estimativas mundiais partilhadas pelo banqueiro são avassaladoras. Por exemplo, no que respeita à meta da neutralidade carbónica, os dados sugerem que custará entre três a cinco biliões de dólares por ano até 2050. Estes números equivalem ao PIB do Reino Unido investido anualmente durante 30 anos e representam um crescimento bastante significativo ao longo do tempo. Neste contexto global complexo, financiamento sustentável “é mobilizar capital para gerar impacto em projectos que se pretendem apoiar. Ou seja, angaria-se financiamento que se utiliza para investir em iniciativas ou empresas que estão a tentar contribuir para a jornada ESG”, destacou.
Maior debate, maior escrutínio
No cronograma evolutivo do mundo ESG, Shongwe destacou alguns mecanismos, como as obrigações verdes, que registaram um crescimento bastante significativo desde 2013. Além disso, os empréstimos ligados à sustentabilidade também cresceram, especialmente em 2021.
“Angaria-se financiamento que se utiliza para investir em iniciativas ou empresas que estão a tentar contribuir para a jornada ESG”
Tal deve-se ao facto de haver flexibilidade nos empréstimos ligados à sustentabilidade, em comparação com as acções de capital de risco. Mas, chegando a 2022, esses empréstimos diminuíram e a razão para isso é que há uma maior desconfiança, que gera escrutínio, em torno do greenwashing, ou seja, a criação de uma falsa imagem de sustentabilidade por parte de uma entidade.
Assim, “os reguladores estão a prestar mais atenção ao assunto e a questão de as empresas estabelecerem objectivos ambiciosos está a entrar no debate”, esclareceu. O Standard Bank, enquanto empresa, assumiu o compromisso de mobilizar cerca de 250 mil milhões de rands entre 2022 e 2026 (equivalente a cerca de 850 mil milhões de meticais ou 13,5 mil milhões de dólares) para apoiar projectos sustentáveis ou relacionados com ESG. O banco quer estar no topo da tabela das entidades mais empenhadas na área.
Desempenho vs receitas
As principais soluções do financiamento sustentável, de acordo com Fanile Shongwe, dividem-se em dois grupos: as que são baseadas no desempenho e outras assentes na utilização de receitas. Os instrumentos baseados no desempenho podem ser utilizados para fins empresariais gerais.
Pode ser uma solução utilizada para empréstimos e no espaço do mercado de capitais – mas, “dependendo da bolsa de valores em causa, pode ser necessária uma verificação independente, na fase inicial. Por isso, este tipo de instrumentos ou soluções requer sempre uma verificação independente para mitigar qualquer ‘greenwashing’”, referiu. Outra solução ou instrumento é designada por utilização das receitas. Aqui, por exemplo, quando se angariam fundos para desenvolver um projecto solar, a utilização das receitas está consignada. Por isso, não há flexibilidade como nos instrumentos ligados ao desempenho e os relatórios são bastante rigorosos. No instrumento da utilização das receitas, tradicionalmente, os objectivos são acordados e o benefício da fixação de preços é ajustado antecipadamente. No entanto, existe um mecanismo de protecção incorporado, uma vez que, anualmente, é apresentado um relatório para informar se os objectivos estão a ser cumpridos e quanto do empréstimo está a ser destinado a esse projecto solar.
Se se verificar que existe um défice ou que os objectivos estão em risco, pode ajustar-se a taxa de juro para, basicamente, recuperar o benefício que lhe terá sido dado por não cumprir os objectivos antecipadamente. Tradicionalmente, este é o quadro para a concessão de financiamentos sustentáveis em vigor no Standard Bank e que está disponível em toda a região, não se limitando à África do Sul.
As transacções que o banco realiza são classificadas em sustentáveis, ecológicas, sociais e de transição. Como exemplo de uma transacção de transição, o banco financiou uma mina de carvão para colocar painéis solares. Este tipo de operações é considerado ‘castanha’ e é difícil classificá-lo como ‘verde’ porque, embora esteja a instalar painéis solares no telhado, é uma mina de carvão – mas o banco ajudou esse cliente a descarbonizar a sua actividade. (DE)