Economia

Clima de Tensão na Rádio Moçambique: Trabalhadores acusam Conselho de Administração de arrogância e exigem reformas urgentes

 

Maputo – Uma reunião convocada de forma urgente nesta quarta-feira (17 de Julho de 2025), no auditório central da Rádio Moçambique (RM), revelou um ambiente interno profundamente marcado por descontentamento, desconfiança e exigência de mudanças. A sessão, que foi dirigida pela Emília Moiane, directora do Gabinete de Informação (GABINFO) e contou com a presença de membros do Conselho de Administração e técnicos do Instituto de Gestão das Empresas Públicas (IGEP), foi uma tentativa de resposta aos rumores de uma possível greve nacional dos trabalhadores da emissora pública.

Na sessão, os trabalhadores não pouparam críticas à gestão da empresa, centrando os seus protestos na alegada arrogância do Presidente do Conselho de Administração (PCA) Abdul Naguibo, na ausência de diálogo efectivo e nas práticas que classificam como perseguições internas.

“O nosso maior problema chama-se o nosso patrão – o Estado-Governo”, afirmou o pré-reformado Santana Bílio. “Durante anos, a Rádio Moçambique tem sido usada como veículo de propaganda governamental, mas tem recebido cada vez menos financiamento. A empresa está a afundar-se, e os trabalhadores pagam o preço.”

Outros intervenientes levantaram questões relacionadas com cortes salariais inesperados, falta de clareza nos processos de promoção, ausência de diálogo institucional, condições de trabalho degradantes e intimidações. Em tom emocional, Zimba, outro funcionário sénior, descreveu a sua realidade como de um “profissional morto”, denunciando perseguições e represálias por falar abertamente.

“Na Rádio, quando se diz a verdade, morre-se profissionalmente. Há perseguições silenciosas. Os trabalhadores são tratados como agitadores. Os transportes são indignos, os trabalhadores não têm água para beber, e os salários são vergonhosos.”

Segundo os funcionários, o Instituto de Gestão das Empresas Públicas (IGEP) é identificado como um dos grandes entraves, por alegadamente manipular ou travar os processos de enquadramento e progressão profissional, além de introduzir cortes injustificados nos salários.

Orlando Jorge Moçangana, afecto ao gabinete jurídico da RM, fez um apelo directo ao PCA para sair dos gabinetes e dialogar directamente com os trabalhadores, “de preferência, sozinho, como um pai que ouve os seus filhos”. Na mesma intervenção, denunciou ter sido informalmente acusado de ser o autor de uma denúncia anónima à Procuradoria-Geral da República, sem qualquer notificação oficial ou direito ao contraditório, situação que, segundo ele, fere a sua integridade profissional e familiar.

“Peço ao Conselho de Administração que me acuse formalmente, se tiver provas. Caso contrário, que me diga quem induziu o Conselho ao erro. Trabalho aqui desde 2007. Vim para a sede por convite da direcção e fui gestor em Gaza durante seis anos. Não aceito ver a minha imagem ser destruída por rumores e intrigas.”

Do lado do Gabinfo, a directora Emília Moiane, tentou amenizar os ânimos, afirmando que o encontro teve como objectivo ouvir todas as partes envolvidas, compreender o ambiente vivido na Rádio Moçambique e recolher elementos para decisões futuras.

Apesar do tom conciliador da delegação do Gabinfo, o ambiente permaneceu tenso. Sindicalistas, quadros técnicos e funcionários de províncias, como a Zambézia e Gaza, reforçaram que o verdadeiro problema é o subfinanciamento crónico da empresa, apelando a uma solução estrutural semelhante à da RTP (Portugal), cujo orçamento é aprovado no Parlamento.

“Se o Governo não começar a olhar para a Rádio Moçambique como serviço público essencial e não garantir um financiamento adequado, vamos continuar a viver sob instabilidade. Os jovens vão desistir, e a greve será inevitável,” alertou Rizic Zacarias, de Quelimane.

Até ao fecho desta edição, o PCA da Rádio Moçambique ainda não se pronunciou publicamente sobre as acusações. Os trabalhadores, no entanto, garantem que continuarão a lutar pelos seus direitos e pela dignidade da instituição. Moz24h

 

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