Uma auditoria às contas do Banco de Moçambique (BdM) referentes ao exercício financeiro de 2024 concluiu que o Estado não reconhece, desde 2005, os saldos das variações cambiais devidos à instituição, acumulando um valor total superior a 115,3 mil milhões de meticais (1,5 mil milhões de dólares), segundo a sociedade de auditores Forvis Mazars, numa notícia avançada pela agência Lusa.
A constatação surge bo capítulo “Base para opinião com reserva” do relatório do auditor independente, que acompanha as demonstrações financeiras do banco central, datado de 30 de Junho de 2025. O documento sublinha que esta omissão viola a Lei n.º 1/92, de 3 de Janeiro — Lei Orgânica do Banco de Moçambique — cujo artigo 14.º estabelece que as perdas resultantes de flutuações cambiais devem ser reconhecidas pelo Estado, o qual deve emitir, em contrapartida, títulos da dívida pública a favor do banco emissor.
“Constatámos que o Estado não assume as suas responsabilidades desde o exercício de 2005, no montante acumulado de 115,4 mil milhões de meticais (1,5 mil milhões de dólares), quantificados com referência à data de 31 de Dezembro de 2024”, lê-se no relatório.
Adicionalmente, o auditor destaca que o banco central também não procedeu ao registo dos juros e rendimentos associados a essa dívida nas suas contas individuais e consolidadas. Este valor ascende a 27,6 mil milhões de meticais (367 milhões de dólares) à mesma data, o que agrava ainda mais a posição financeira da instituição.
O Banco de Moçambique terminou o ano de 2024 com um prejuízo de 4,1 mil milhões de meticais (54,9 milhões de dólares), revendo substancialmente em baixa os lucros inicialmente reportados em 2023. O resultado revisto de 2023 fixou-se em 886,2 milhões de meticais (11,7 milhões de dólares), significativamente abaixo dos quase 2,3 mil milhões de meticais (30,9 milhões de dólares) anteriormente contabilizados.
O relatório explica que, em 2024, foi identificada uma anomalia no sistema informático do banco, relacionada com a contabilização das variações cambiais realizadas no vencimento de operações de depósitos a prazo e empréstimos interbancários de um dia referentes a exercícios anteriores até 2023. O banco procedeu ao ajustamento necessário, o que resultou na reexpressão retroactiva das contas de 2023.
No final de 2024, os activos totais do Banco de Moçambique ascenderam a 759,2 mil milhões de meticais (10 mil milhões de dólares), enquanto os passivos totais se situaram em 754,1 mil milhões de meticais (9,9 mil milhões de dólares), correspondendo a um capital próprio de 5 mil milhões de meticais (67,1 milhões de dólares).
Fonte: Lusa
