Pemba, Cabo Delgado –A Associação Nacional dos Professores (ANAPRO) veio hoje a público, através de uma conferência de imprensa em Pemba, denunciar aquilo que considera um tratamento desigual e desrespeitoso aos docentes da província de Cabo Delgado, especialmente os que exercem funções em zonas afetadas pelo terrorismo e em escolas públicas sobrelotadas.

Durante a declaração feita pelo porta-voz da ANAPRO, Ahiti Yazado, ficou claro o descontentamento da classe docente face à gestão do pagamento de horas extraordinárias. “Alguns colegas receberam valores muito abaixo do que lhes era devido, enquanto outros nem sequer foram contemplados”, afirmou.
A denúncia surge na sequência de uma conferência de imprensa realizada na Praça dos Heróis Moçambicanos, no centro da cidade de Pemba, onde dezenas de professores se reuniram com exigências claras: pagamento das dívidas, valorização da classe e melhores condições laborais.
Segundo o porta-voz da ANAPRO, o Ministério da Educação e Cultura tem falhado na transparência e na comunicação com os docentes. A promessa de pagamento de 50% da dívida relativa às horas extraordinárias ficou aquém do esperado. “Recebemos 800, 1000 meticais. Estávamos à espera de 15 mil como metade da dívida.Isto é uma humilhação”, disse o porta-voz.
Mas o problema vai muito além das horas extraordinárias. De acordo com a ANAPRO, há centenas de professores que ingressaram no sistema nos últimos três anos e que, até à data, não viram sequer o primeiro salário. Estes docentes continuam a exercer, muitas vezes em zonas remotas, sob promessas que nunca se materializam.
Ahiti também chamou a atenção para o número alarmante de alunos por sala, que pode chegar a 100 ou 150 estudantes. “Como é que se ensina Física ou Química, disciplinas que exigem atenção individual e prática, nestas condições? E sem professores qualificados?”, questionou.
Outro ponto crítico abordado pela associação é a situação dos professores colocados nos distritos assolados pela insegurança armada. Nestes locais, muitos profissionais da educação têm evitado comparecer às escolas por temerem pela própria vida. No entanto, o Estado responde com cortes salariais. “Estes colegas não estão a recusar trabalhar por capricho, mas sim por não haver segurança mínima garantida. Cortar-lhes o salário é um ato de insensibilidade e injustiça”, criticou o porta-voz da ANAPRO.
A associação pede uma intervenção urgente do governo central e provincial, exigindo o respeito pelos direitos laborais dos professores, bem como a criação de condições básicas para o exercício pleno da profissão.
A ANAPRO diz ainda que manterá a sua posição firme, e não descarta novas formas de protesto caso o governo continue a ignorar as reivindicações da classe.(Moz24h)
