Por Quinton Nicuete
O município de Pemba prevê investir cerca de cinco milhões de meticais na organização da segunda edição do Festival KISSAMBI, evento cultural que deverá decorrer este ano sob o lema “O Melhor de Pemba numa Só Ligar”.
De acordo com a vereadora do pelouro de Cultura e Turismo, em representação do presidente do Conselho Municipal, a iniciativa será financiada através de uma Gala de Angariação de Fundos e de contribuições de parceiros públicos e privados. A edilidade estima ainda arrecadar 2,8 milhões de meticais com a venda de 350 bilhetes para a gala.
A nova edição do festival promete melhorias face ao ano anterior, incluindo a introdução de novos elementos na programação, numa tentativa de afirmar o certame como uma das principais referências culturais da cidade.
Contudo, a decisão de canalizar recursos significativos para o evento levanta interrogações entre residentes, que apontam para os inúmeros desafios que a urbe enfrenta no dia-a-dia. Pemba continua a debater-se com graves problemas de erosão costeira, falta de saneamento em bairros como Paquitequete, inexistência de um mercado grossista e estradas esburacadas que têm sido remendadas com cimento vindo de Mieze, provocando poeira constante.
A falta de iluminação pública, que contribui para o aumento de casos de criminalidade, soma-se à lista de preocupações, assim como a irregularidade no fornecimento de serviços básicos. O abastecimento de água é deficitário em quase toda a urbe, com particular incidência na zona residencial de Chibuabuare, onde as torneiras permanecem secas, mas as facturas chegam com valores considerados exorbitantes pelos moradores.
“Vivemos sem água durante semanas, mas as facturas continuam a vir com valores altíssimos. Parece que pagamos por um serviço que não recebemos”, lamentou Ernesto Mussa, residente em Chibuabuare.
Outro morador, Fátima Ibraimo, do bairro de Expansão, refere que a insegurança é crescente devido à falta de iluminação: “Muitos vizinhos já foram assaltados à noite. As ruas ficam completamente às escuras e os criminosos aproveitam-se dessa situação.”
Para o activista social Abudo Gafuro, a prioridade do município deveria estar no investimento em infra-estruturas básicas como valas de drenagem com esses os 5 milhões e não em grandes eventos culturais. “A cultura é importante, mas Pemba está mergulhada em problemas estruturais graves. A população precisa de água, saneamento, estradas transitáveis e iluminação pública. Sem resolver estas questões, qualquer festival será apenas um espectáculo que mascara a realidade”, sublinhou.
Gafuro, terminou questionando se houve ou não auscultação política sobre os fins deste valor.
Os semáforos alguns permanecem inoperacionais em vários pontos da cidade, a estrada ANE–CHIUBA abandonada e as muitas vias de acesso sem asfalto reforçam a percepção de abandono.
De tudo o município de Pemba não querem falar mas se, por um lado, a realização do Festival KISSAMBI é vista como uma oportunidade para promover a cultura e atrair turismo, por outro, cresce a preocupação de que os problemas estruturais de Pemba continuem a ser relegados para segundo plano. Moz24h