Exmo. Senhor Presidente Filipe Nyusi
Presidente da República de Moçambique,
Presidente do partido Frelimo,
Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança,
Campeão da União Africana para Gestão do Risco de Desastres Naturais.
Excelência,
Permita-me, mais uma vez, e do alto da minha insignificância, expressar aminha eterna gratidão por ter emergido dos escombros do um sepulcral silêncio ainda que presente na nossa capital, para a nação e para o mundo, e emprestar a sua ilustre presença ao visitar, abraçar e consolar a cidadã Aldácia Macuácua no leito hospitalar. Dizem que foi um milagre ela estar viva, pois as balas que mataram Elvino Dias e Paulo Guambe estavam carregadas de uma fúria semelhante à dos “Al Shababs” quando massacram nosso povo. Com os dentes crocodilados de raiva.
Gesto similar, que igualmente, nos encheu de orgulho, Vossa Excelência já havia realizado em Abril, ao visitar uma criança vítima daquele trágico acidente de viação, causado por um dos seus queridos filhos que me abstenho de mencionar o nome, até porquê, uma vez mais, foi amplamente noticiado, voltando a ser conhecido, por motivos nada abonatórios. Aqui a excelsa Mamã Isaura, nossa mãe também, pautou por um silêncio medonho, quando fazia mais sentido consolar a mãe da criança de mãe para mãe, à esteira. Estranhamente, mas sobre o mano Elvino e mano Guambe a mamã falou mas o camarada Presidente, seu marido não falou. Será uma dissonância de sentimentos ou enviesamento de empatias? Enfim, em coisas de mamã e papá os filhos não metem a colher.
Naquela ocasião, o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), Leonel Muchina, informou que “o expediente seguirá para as demais instituições de justiça e, havendo elementos, poderá instaurar-se um processo criminal.”
Camarada Presidente,
É o mesmo porta-voz que, num primeiro momento, afirmou que o crime brutal que tirou as vidas de Elvino Dias e Paulo Guambe teve, supostamente, origem numa “discussão de cariz conjugal”, no Pulmão. Quem somos nós, Excelência, para dizer ao Muchina que tenha mais cuidado com as suas palavras em tempos pós-eleitorais?
Excelência,
Lembrei-me do ataque brutal a Palma e do tempo que Vossa Excelência demorou a reagir, só emitindo um comunicado ao sétimo dia, logo após inaugurar uma fábrica de cerveja em Marracuene. Naquela ocasião, num momento de evidente dor, quase ditou a sentença do que julga ser o mal que grassa a nossa bela nação: “Matamo-nos por causa do gás!”
Confesso que até hoje tento entender como esses “delinquentes”, conforme os chamou o Comandante-Geral, conseguiram sobreviver por sete longos anos, mesmo sob vigilância de forças privadas e desconhecidas, incluindo com as profissionais RDF do “querido amigo de Moçambique” PK (The First) continuando na saga assassinatos de ceifar vidas de pessoas e devassar propriedades e esforço de anos em Cabo Delgado, o berço da nossa luta contra o colonialismo.
Obrigado por ter aparecido, Camarada Presidente
.
Ficamos a saber que Vossa Excelência, através do General Pascoal Ronda, já havia comunicado que não ia aceitar de ânimo leve as palavras de Leonel Muchina. Nem vou questionar como um subordinado contraria o seu ministro ou o ministro desautoriza o subordinado, em verdade mesmo não quero nem vou me fixar nessa estranha e díspar incongruência que não é, nem de um, muito menos de outro um lapsos languae. Mas faço nota da ausência do SERNIC, única entidade constitucionalmente imbuída para investigar crimes desta natureza, podendo solicitar ajuda a quem achar importante e pertinente.
Camarada Presidente,
Deixemos que os serviços de investigação criminal, com o apoio das câmaras de videovigilância, possam esclarecer quem está por trás desses actos que tentam manchar o seu legado, confirmado por 100% dos delegados no último congresso da nossa gloriosa Frelimo. Esperamos que esses criminosos sejam investigados, expostos, julgados e exemplarmente condenados. E, neste momento, quero estar lá para celebrar essa vitória com Vossa Excelência, como o triunfo daqueles a quem chamou de “únicos e legítimos patrões”.
Excelência
Rogo que seja célere a investigação em busca da verdade material dos factos que concorreram para o hediondo crime, que alguns têm a certeza de ser um “crime de Estado”. Que o SERNIC venha desmentir essa certeza com a perícia que lhe é devida e assumida.
Obrigado por ter aparecido, Camarada Presidente. Não desapareça, há, muitos aspectos que deveríamos ter conversado durante estes anos que lentamente caminham para o fim, sobre o nosso pacto: Patrão e Empregado (T&C’s aplicáveis).
Receba o meu mais fraternal abraço, eivado de patriotismo e moçambicanidade.
Deste seu humilde Patrão
Luis Filipe Nhachote
Maputo 24 de Outubro de 2024