Por Quinton Nicuete
Após a denúncia do jornal Moz24h sobre a grave poluição ambiental causada pela empresa Renco, que opera ao lado da Escola Básica Amizade Moçambique-China e da Escola Secundária Maria Mazzarello, no bairro Alto-Gingone, cidade de Pemba, Cabo Delgado, a controvérsia tomou um novo rumo, levantando ainda mais preocupações.
A reportagem revelou não apenas os impactos nocivos da atividade da empresa no ambiente escolar, mas também uma tentativa de suborno a um repórter – um fato alarmante que coloca em questão a transparência e a conduta da Renco. Em resposta, a empresa negou as acusações e abriu uma queixa-crime contra o jornalista. No entanto, o que se seguiu trouxe ainda mais suspeitas.
Enquanto a Renco se defendia judicialmente na 3ª Esquadra da PRM, suas máquinas pesadas entraram em operação, supostamente para minimizar os efeitos da poluição. O barulho ensurdecedor dos equipamentos substituiu temporariamente o odor insuportável que alunos e professores enfrentam diariamente. Mas a tentativa de correção veio acompanhada de um novo problema: o bloqueio das duas entradas das escolas, dificultando o acesso dos estudantes às aulas.
Os alunos da Escola Básica Amizade Moçambique-China foram obrigados a entrar pela via conhecida como escritório ao interior, enquanto os da Escola Secundária Maria Mazzarello precisaram utilizar vias alternativas, onde um trecho do muro da escola chegou a desabar.
A movimentação da Renco pegou de surpresa os moradores da região, que, durante anos, não viram qualquer demonstração de preocupação da empresa com o bem-estar da comunidade escolar ou do bairro. Inicialmente, houve limpeza e tapamento de buracos, seguidos de nivelamento com saibro. Mais recentemente, os trabalhos se intensificaram para a pavimentação de aproximadamente 600 metros da via.
Contudo, sem qualquer explicação oficial, a obra foi abruptamente interrompida após a pavimentação de apenas 40% da via de acesso às instituições. A falta de comunicação e um plano claro para a conclusão do projeto geram indignação na comunidade escolar e levantam dúvidas sobre o real compromisso da Renco em solucionar o problema que ela mesma criou.
Diante desse cenário, as autoridades governamentais precisam agir. Por que a obra foi paralisada? Existe um cronograma para sua retomada? Que medidas serão tomadas para garantir que o direito à educação dos alunos não continue sendo prejudicado por ações empresariais irresponsáveis?
O caso não apenas expõe a vulnerabilidade das escolas diante de interesses econômicos, mas também coloca em risco a liberdade de imprensa em Moçambique. A tentativa de judicialização contra um jornalista que o caso agora foi transferido a Procuradoria provincial de Cabo Delgado, que apenas cumpriu seu dever de informar estabelece um precedente perigoso. Se nenhuma ação concreta for tomada, a saúde das crianças, a transparência e o direito à informação continuarão ameaçados. (Moz24h)