Opiniao

O País dos vivas e a soberania adiada

 

Por Quinton Nicuete

Moçambique celebra a aprovação de três grandes projectos para a exploração de gás natural liquefeito (GNL) na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, um dos maiores depósitos do mundo. Entre os investimentos estão o da TotalEnergies, com capacidade prevista de 13 milhões de toneladas por ano, e o da ExxonMobil, de 18 milhões, ainda em fase de decisão final de investimento. Ambos situam-se na península de Afungi, palco de um dos empreendimentos mais ambiciosos da história económica do país.

Contudo, por detrás dos aplausos e dos discursos de entusiasmo, ergue-se uma questão sensível: quem garante a segurança desta riqueza nacional? Não é o exército moçambicano, mas sim as forças ruandesas, cuja presença no terreno foi decisiva para a eventual retoma das operações da TotalEnergies, suspensas desde 2021.

Esta dependência expõe uma ferida profunda, a da soberania nacional. É paradoxal que, mais de meio século após a independência, Moçambique continue a depender de forças externas para proteger os seus recursos estratégicos. O orgulho de um país livre esbate-se quando a segurança do seu maior investimento estrangeiro é garantida por outro Estado.

A experiência internacional ensina que a excessiva dependência externa, seja militar ou económica, fragiliza os pilares de uma nação. Recorde-se o encerramento da USAID decidido por Donald Trump, cujos efeitos devastadores expuseram a fragilidade de sistemas nacionais excessivamente terceirizados, como o da saúde.

A figura do presidente ruandês Paul Kagame, frequentemente descrita como imprevisível, acrescenta um novo elemento de incerteza. Confiar-lhe a proteção do maior activo nacional pode ser uma aposta arriscada, mais merecedora de prudência e reflexão do que de celebrações apressadas.

Entre vivas e aplausos, o verdadeiro desafio de Moçambique continua a ser o mesmo: conquistar, de facto, a sua soberania. (Moz24h)

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