Sociedade

Morre John MacArthur: Um Atalaia Que a Igreja Moçambicana Ignorou

Por Tiago J.B. Paqueliua

 

Faleceu ontem, 14 de Julho de 2025, aos 86 anos, o pastor John Fullerton MacArthur Jr., teólogo reformado, pregador expositivo, autor prolífico e um dos últimos baluartes da ortodoxia evangélica do século XX e XXI. Com sua morte, não apenas os púlpitos americanos empobrecem – a Igreja Evangélica Moçambicana perde, ainda que postumamente, um exemplo de como resistir às potestades deste século. Um homem que nunca pregou em Cabo Delgado, mas cuja voz seria oportuna e necessária diante do genocídio político-religioso que lá se abateu – e continua a abater-se – sobre inocentes abandonados por governantes e igrejas cúmplices.

MacArthur era, por excelência, um dissidente da suavidade pós-moderna e um crítico agudo da capitulação da fé aos ditames do politicamente correcto. Sua morte convida-nos, enquanto igreja e sociedade, à introspecção: que voz profética temos tolerado e que tipo de silêncio temos cultivado? Quantos pastores em Moçambique ousariam, como ele, desafiar o poder político, a corrupção institucionalizada e o sincretismo religioso sem medo de retaliação ou perda de privilégios?

A herança do púlpito como resistência

John MacArthur não foi apenas um pregador. Foi um atalaia. Sua pregação expositiva – verso a verso, capítulo a capítulo, durante mais de 50 anos – lembra-nos que a Bíblia não é um repositório de promessas motivacionais, mas um manifesto radical de verdade, justiça e graça sob a soberania de Deus. Em Moçambique, onde a pregação se resume a campanhas, curas e sementeiras financeiras, a pedagogia bíblica de MacArthur é quase herética aos olhos do evangelicalismo dominante. E talvez por isso seja mais necessária do que nunca.

Onde estão os MacArthurs de Nampula? Os de Pemba? Onde estão os púlpitos que denunciam o pecado estrutural da corrupção, que expõem o oportunismo dos pastores milionários e que se recusam a abençoar políticos genocidas? Em Cabo Delgado, onde o sangue clama por justiça e as igrejas preferem entoar louvores ao governo, a voz de MacArthur seria – e ainda é – um sopro de coragem teológica.

Teologia Moral e Política: um chamado à ética profética

MacArthur defendia uma teologia de integridade pública, que abominava o teatro religioso que muitos usam para camuflar ambições políticas. Ele não era partidário — e nunca deveria ser, pois era um pastor no sentido verdadeiro da palavra, mas também não era neutro: sua lealdade era à verdade. Tal fidelidade custou-lhe perseguições, acusações e cancelamentos – sinais evidentes de que estava no caminho certo.

No contexto moçambicano, onde se espera que os pastores sejam animadores do status quo, MacArthur representaria um escândalo. Um escândalo necessário.

Sua firme posição contra a teologia da prosperidade, contra o emocionalismo desprovido de doutrina e contra o alinhamento da igreja com poderes corruptos deveria ser currículo obrigatório nos seminários teológicos de Moçambique. A sua morte representa, pois, não apenas a partida de um homem, mas o colapso de um modelo que a Igreja Moçambicana, tristemente, nunca soube ou quis imitar.

Cabo Delgado: onde faltaram MacArthurs

Em Cabo Delgado, onde a população cristã foi vilipendiada por terroristas e abandonada pelo Estado, MacArthur teria chamado os crentes à perseverança sem triunfalismo, à resistência sem violência, à fidelidade mesmo em face da morte. Ele lembraria aos crentes que “Cristo não prometeu segurança terrena, mas glória eterna”, e que “a cruz precede a coroa”. Em vez disso, o que se viu foram líderes eclesiásticos preocupados com os seus próprios patrocínios, ofuscados por suas cumplicidades diplomáticas com o poder estatal.

É aqui que a teologia de MacArthur se torna politicamente subversiva: ela obriga-nos a escolher entre agradar ao mundo ou obedecer a Deus. E em Moçambique, onde a igreja institucional se tornou um apêndice do Partido-Estado ou de um dado Partido da Oposição, tal escolha é tudo menos inofensiva.

Conclusão: A morte que é espelho

O falecimento de John MacArthur devia ser, para a Igreja Moçambicana, um espelho e uma provocação.

Um espelho porque nos expõe: não temos produzido vozes semelhantes, nem permitido que elas cresçam.

Uma provocação porque nos obriga a repensar a função profética da Igreja, num país onde o Evangelho se tornou refém de slogans e conivência.

MacArthur pregou até ao fim, mesmo doente. Deixou-nos uma fé que não negocia, uma coragem que não simula, uma doutrina que não se vende. Em tempos de ditaduras subtis, corrupção endémica e terrorismo religioso, a Igreja Moçambicana precisava – e ainda precisa – de menos diplomacia clerical e mais fidelidade bíblica.

Oxalá sua morte acenda alguma chama. Oxalá nos envergonhe a covardia. Oxalá nos lembremos que o púlpito é trincheira e que há batalhas que não se vencem com hinos e abraços, mas com o Verbo encarnado, pregado com fidelidade e vivido com coragem.
Pois, como dizia o próprio MacArthur:
“You will never know how strong your faith is until being strong is your only option.” — “Nunca saberás quão forte é a tua fé até que forte seja a tua única opção.”

Que Cabo Delgado nos ouça. Que a Igreja se levante.

“Post Tenebras Lux Veritatis”

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