De acordo com o relatório do primeiro semestre divulgado por aquele grupo, criado em 2011 e liderado conjuntamente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), a situação verifica-se nas províncias de Niassa, Nampula e Cabo Delgado, esta última com 879 mil pessoas nesta situação, nomeadamente devido ao conflito terrorista.
“Os parceiros do FSC (na sigla em inglês para Food Security Cluster) apelam aos doadores para apoiarem o Plano de Necessidades e Resposta Humanitária (PNRH) de 2024, que visa 10,8 mil milhões de meticais (172 milhões de dólares) para satisfazer as necessidades de aproximadamente um milhão de pessoas, incluindo as afectadas por conflitos”, segundo o documento do Grupo de Segurança Alimentar, com base na última análise da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC) no norte de Moçambique, citado pela Lusa.
Reconhece-se ainda que, “apesar dos desafios intermitentes de acesso devido ao encerramento de estradas e à insegurança”, os parceiros “estão a dar prioridade à manutenção de uma presença no terreno e à prestação dos serviços e fornecimentos necessários”.
“A situação é grave, com mais de meio milhão de pessoas deslocadas e 623 mil regressadas a casa no norte de Moçambique. A destruição generalizada e os danos causados às infra-estruturas, incluindo instalações recentemente reabilitadas, perturbaram os serviços nos distritos afectados por conflitos e reverteram os ganhos de desenvolvimento”, lê-se no documento.
“A vulnerabilidade dos deslocados internos e dos repatriados, que continuam a depender da assistência humanitária para sobreviver, é significativa. Os regressos ocorrem frequentemente em áreas remotas onde as redes tradicionais de protecção comunitárias ainda não recuperaram”, reconhece igualmente o relatório.
Nos últimos meses, “a situação de segurança em Cabo Delgado deteriorou-se acentuadamente”. Entre 26 de Dezembro de 2023 e final de Maio de 2024, os ataques perpetrados por grupos armados “deslocaram aproximadamente 189 mil pessoas, na maior deslocação desde 2017”.
“Esta violência espalhou-se por vários distritos, incluindo Ancuabe, Chiúre, Macomia, Mecufi, Metuge, Mocímboa da Praia, Muidumbe e Quissanga, com repercussões nos distritos de Erati e Memba, na província de Nampula. Estes ataques expandiram-se para áreas anteriormente não afectadas, levando a uma distribuição geográfica mais ampla das operações”, admite o Grupo de Segurança Alimentar.
Além disso, acrescenta que o ataque no distrito de Macomia, em Maio, resultou na suspensão da assistência a 89 mil pessoas, agravando ainda mais a crise.
O Grupo de Segurança Alimentar coordena respostas de segurança alimentar durante e após uma crise humanitária, na disponibilidade, no acesso, na utilização e na estabilidade de alimentos, com uma rede de mais de mil parceiros em 29 países.
Cabo Delgado enfrenta desde Outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O último grande ataque deu-se a 10 e 11 de Maio à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique. (DE)