Dois programas financiados pela União Europeia no sector cultural, PROCULTURA PALOP-TL e ACP-EU Culture, vão apoiar a participação de cinco artistas no Festival Internacional de Dança Contemporânea KINANI, que terá lugar em Maputo, Moçambique, de 20 a 26 de Novembro de 2023. Este ano, o festival acolhe também a 17.a edição da ‘Biennale de Danse en Afrique’.
Os programas da União Europeia estão a organizar conjuntamente um painel de discussão sobre o tema “Dançar em África: Mobilidade Internacional, Formação e Parcerias”. Os artistas Bibiana
Figueiredo, luso-angolana residente em São Tomé e Príncipe, Bruno Amarante (Djam Neguim) de Cabo Verde, e Osvaldo Passirivo, moçambicano, beneficiários do PROCULTURA, mais Khodia Touré, senegalesa e TauraiMoyo, do Zimbabué, beneficiários do ACP-EU Culture, vão partilhar as suas experiências promovendo o diálogo e a reflexão sobre os desafios atuais enfrentados pelos profissionais da dança e da coreografia em África.
A discussão será conduzida pela especialista e curadora polaca Julia Asperska. Além disso, os artistas terão a oportunidade de participar em todas as atividades do festival, promovendo a internacionalização do seu trabalho e ao mesmo tempo estabelecendo ligações com outros artistas e instituições do sector da dança.
O KINANI é uma bienal internacional criada em2005 em Maputo, Moçambique, que figura entre os principais eventos de dança contemporânea do continente africano. É conhecido pela consistente inovação, mobilizando um público cada vez mais amplo. Este ano, o festival acolhe a ‘Biennale de Danse en Afrique’, o maior evento de dança no continente, que reúne personalidades internacionais de destaque no sector. Estes artistas representam vários países unidos pelo desejo de desenvolver a dança contemporânea em África.
A participação conjunta do PROCULTURA e do ACP-EU Culture representa uma oportunidade única para fomentar ligações internacionais entre bailarinos, coreógrafos, produtores e outros profissionais da dança. Serve também para sublinhar a relevância dos dois programas financiados pela União Europeia, das suas ações, projectos e dos artistas.
Alinhamento
Para o alinhamento desta edição o festival terá em palco Bibiana Figueiredo, luso-angolana residente em São Tomé e Príncipe, é bailarina, professora de dança, coreógrafa e fundadora do projeto Raíz Arte, com o apoio da PROCULTURA. Começou a dançar ainda jovem, estudou no Balleteatro em Portugal e é licenciada em dança pela Escola Superior de Dança. Formou-se com coreógrafos de vários países e criou “Muala” durante a sua participação na residência RIR PALOP em 2020, posteriormente apresentada no Kinani em 2021. Fundou o Raíz Arte, em São Tomé e Príncipe, com foco na promoção da dança e do teatro, por meio da formação artística, envolvimento da comunidade e da organização de eventos culturais. Em particular, está a organizar a terceira edição do XÊ- Festa da Dança Contemporânea 2024, o primeiro festival de dança contemporânea em São Tomé e Príncipe. Bibiana é licenciada em Educação pela Universidade Aberta em Portugal e integra arte e educação nos seus projetos de desenvolvimento.
Bruno Amarante (Djam Neguim), de Cabo Verde, foi bolseiro de residência artística em Portugal (em 2020), com uma bolsa PROCULTURA que apoia a mobilidade internacional de artistas. É uma figura proeminente e revolucionária na cena artística e cultural de Cabo Verde, exibindo os seus talentos multidisciplinares na dança, música, teatro, moda, performance, literatura e artes audiovisuais. Natural da Praia, Cabo Verde, mudou-se ainda jovem para Portugal, mas regressou à Praia em 2011, deixando uma marca significativa no movimento artístico do país. Djam dirigiu e criou inúmeros eventos culturais, como Monday Jazz, Hip Hop Summer Fest, Festival Internacional de Dança Contemporânea Kontorno, o Konkursu Nacional de Hip Hop, Mostra de Dança da Praia e o Kebra Cabana Urban Battle. RepresentouCabo Verde internacionalmente em locais como Hollywood, Nova Iorque, Paris, Tenerife,
Dakar, Brasília, Maputo, Madrid, Lisboa, Lausanne, Pergine, entre muitos outros. Djam também é uma voz para causas ativistas e humanitárias. Desde 2020, dedica-se a explorar a estética queer afro-futurista e as agendas anticolonialistas e antirracistas. A sua participação no KINANI é também apoiada pelo Tri*Pé – Três Ilhas, Três Artes, polo de criação artística financiado pelo PROCULTURA em Cabo Verde.
Julia Asperska é gestora, organizadora, networker e curadora na área das artes. Possui um mestrado em Etnolinguística pela Universidade Adam Mickiewicz em Poznań (2006) e frequentou um curso de pós-graduação em história de arte e curadoria na Universidade Adam Mickiewicz em Poznań (2013). A sua paixão pelas artes começou com um estágio na Brisbane Powerhouse, Austrália (2008). Posteriormente, trabalhou no Teatro Dramatyczny em Varsóvia e no Warszawa Central no Festival (2010). Durante nove anos (2011-2010) trabalhou como gestora de projeto na Key Performance, uma empresa de gestão de arte com sede na Suécia. Durante dois anos foi codiretora Associada da empresa de gestãoSomething Great (2020-2022), onde trabalhou como gestora de coleção da “Something Great Collection” – um projeto com sede em Berlim dedicado exclusivamente à preservação, pesquisa e apresentação de artes cênicas.
Desde 2018 colabora coma coreógrafa uruguaia Tamara Cubas e com a sua organização CampoAbierto – uma ONG focada na inclusão social através das artes. Julia apoia organizações com consultoria artística, estratégica e de curadoria. Atualmente Julia Asperska é curadora associada da International e TanzmesseNRW.
Khoudia Touré, senegalesa, coreógrafa, nascida numa família do Senegal e de França, abraçou a cultura hip-hop em ambos os países. Começou a dançar no Senegal e aprofundou assuas habilidades enquanto estudava no exterior. Em 2012, regressou ao Senegal e co-criou o programa “Shunu Stree”, com foco na “arte social”. Em 2017 fundou a companhia de dança La MerNoire, ganhando reconhecimento na coreografia africana. Khoudia teve mentoria de Crystal Pite por meio da Rolex Foundation em 2018, reforçando sua paixão pela dança. Khoudia também se juntou à companhia de dança Kilai em 2020, trabalhando num projeto que explora a resiliência através de interações com presidiárias. Atualmente é artista associada do TeatroLouis Aragon. Khodia destacou-se em competições internacionais de dança de rua e foi cofundadora da Associação Maggando no Senegal, uma plataforma para dançarinos e líderes de projetos. Khoudia acredita que a dança é uma ferramenta de mudança social, promovendo conexões e quebrando fronteiras.
Osvaldo Passirivo (Khalla), moçambicano, é bailarino e coreógrafo formado em Dança pelo ISArC. É co-fundador da Associação e Companhia de Dança Converge apoiada pelo PROCULTURA DIVERSIDADE. A sua carreira iniciou-se em 2002, tendo colaborado em diversos festivais e projetos nacionais e internacionais. Como intérprete, trabalhou em produções como “Resgate” com a Associação Grupo de Canto e Danca Milorho (Moçambique), “Sorria se puder” com a Cie. Horácio Macuácua, e “Mulher da Noite – o Eterno Amor” por Leco Nkhululeko. Participou também em “Bantu”, espetáculo comemorativo dos 20 anos de criação artística de Victor Hugo Pontes, estreado em outubro de 2023 no Teatro Nacional de S. João, no Porto. “Bantu” surgiu de um convite dirigido a Victor Hugo Pontes pela OPART / Estúdios Victor Córdon e pelo Camões – Centro Cultural Português em Maputo, para o desenvolvimento de uma nova criação de dança contemporânea com intérpretes moçambicanos e portugueses. Osvaldo recebeu uma bolsa PROCULTURA para concretização de uma residência artística (2022) e participou de diversas edições do Kinani com programas como “Itinerários”,
“TEKA” e “Aparências”.
Taurai Moyo, do Zimbábue, fundador e diretor do Chenhaka Trust e da Chenhaka Dance Academy, vencedor do National Arts Merit Award (NAMA) 2008, é um dançarino com 25 anos de experiência na indústria cultural e criativa (ICC), abrangendo performance, formação, direção, produção, coreografia e trabalho com danças culturais e contemporâneas. Além disso fabrica instrumentos de música tradicional e coordena artes comunitárias para projetos de desenvolvimento e programas de intercâmbio cultural. Organizou o primeiro festival de dança tradicional das escolas secundárias denominado Festival Internacional de Artes das Escolas do Zimbábue, antigo festival de dança tradicional das escolas Manicaland. Representouo Zimbabué em França, Espanha, Bélgica, África do Sul, Suazilândia, Zâmbia, Botswana, Argélia e Turquia, entre outros. TauraiMoyotrabalhoucomochefe de programase gestor de bolsas no Chenhaka Trust e é atualmente gestor de bolsas e coordenador do projeto Sound Connects Fund, chamado Performing Arts Business and DigitalDistribution, que está a ser implementado pela Chenhaka Trust.
O PROCULTURA é umprojecto financiado pela UE, co-financiado e gerido pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. (CooperaçãoPortuguesa) e cofinanciadopela Fundação Calouste Gulbenkian. Com um orçamento de 19 milhões de euros para o período 2019-2024, pretende contribuir para o aumento do emprego e das actividades geradoras de rendimento no sector cultural e criativo dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e de Timor-Leste.
KINANI
“Dançar em África: Mobilidade internacional, formação e parcerias.”
22 NOVEMBRO 2023
Galeria do Porto de Maputo
10h00 às 13h00
10h00 – Abertura
Mestre de Cerimónias – Kinani
Séverine Arnal – Gestora de Programa, Cultura – Delegação da União Europeia em Moçambique
10h10 – Painel de discussão
Bibiana Figueiredo – Bailarina e fundadora Projeto Raíz Arte – São Tomé e Príncipe
Bruno Amarante (DjamNeguim) – Artista Multidisciplinar no Polo de CriaçãoTri*Pé – Cabo Verde
Khoudia Touré – Coreógrafa e co-fundadora da Association Magg’Ando – Senegal
Osvaldo Passirivo (Khalla) – Bailarino e co-fundador da Associação Converge Mais- Moçambique
TauraiMoyo – Bailarinoe fundador do Chenaka Trust – Zimbábue
Moderador
Julia Asperska – Curadora Associada da Internationale TanzmesseNRW – Polónia
11h45 – Perguntas eRespostas
12h15 – Coffee Break
13h00 – Encerramento
PROGRAMA ARTÍSTICO
KINANI
PEÇA “NANÁ”
de Djam Neguim
24 NOVEMBRO 2023
Centro Franco-Moçambicano – 19h00 (50 Min)
O Funaná é uma prática musical de dança que surgiu na ilha de Santiago, em Cabo Verde, num contexto pós-escravatura no final do século XIX. Existem diversas versões sobre a origem do nome. Numa delas, conta-se que havia um casal de tocadores, Funa, que tocava gaita, e sua companheira Na-Ná. Na verdade, não temos registros de Na-Ná, pois a história de Funa está cristalizada numa iconoclasta de masculinidade e ruralidade santiaguense. Onde se encontra Na-Ná? Ela existiu? O futuro será a resposta…
PEÇA “VIDAS DE PEDRA”
de Bibiana Figueiredo
25 NOVEMBRO 2023
Quarto Andar – 16h00
Uma história, igual a muitas outras histórias, igual a muitas outras mulheres, meninas, mães e avós. Histórias que são iguais e eternas, que se tornam um cliché. Foram e continuam a ser muitos corpos, corpos que não mentem, olhares que falam e cicatrizes que se transformam. Estamos no norte de Angola, no Uíge, na terra dos Bacongos, conhecidos como os grandes feiticeiros, estamos em 1964 ou em 1974, ou até poderia ser em 2002 ou em 2023. Não, nãoé uma história sobre a guerra de balas, é uma história sobre a guerra das mulheres. (Moz24h)