Sem categoria

ESCOLTA MILITAR RETOMA NA EN380: GOVERNO RESPONDE ÀS EXIGÊNCIAS DO SECTOR PRIVADO EM CABO DELGADO

Por Quinton Nicuete | Pemba, 22 de Julho de 2025

 

A partir desta quarta-feira, 23 de Julho, será retomada a escolta militar no troço Awasse–Macomia da Estrada Nacional n.º 380 (EN380), no norte da província de Cabo Delgado. O anúncio foi feito esta segunda-feira pelo governador Valige Tauabo, durante a Primeira Reunião Regional Norte sobre Segurança, realizada no distrito de Mueda.

 

A medida surge como resposta directa aos apelos protestos ocorridos hoje logo na sua entrada da vila de Mueda e dos reiterados apelos dos empresários da região, que enfrentam crescentes dificuldades nas suas operações logísticas devido à insegurança no corredor que liga os distritos de Mueda, Nangade, Mocímboa da Praia, Macomia e Palma. Os relatos de sequestros, assaltos à mão armada e extorsões têm sido frequentes nos últimos meses, travando o abastecimento de bens, encarecendo o transporte e comprometendo a recuperação económica nas zonas anteriormente ocupadas por insurgentes.

 

“A partir de amanhã, a escolta estará garantida todos os dias para assegurar a tranquilidade na circulação de pessoas e mercadorias”, afirmou o governador, sublinhando que esta é uma “resposta concreta” às preocupações do sector privado.

 

A decisão do governo foi recebida com algum alívio pelos empresários presentes no encontro, mas muitos alertaram para a necessidade de garantir que esta não seja uma medida pontual. Representantes da Confederação das Associações Económicas (CTA) apelaram à institucionalização de um plano de segurança de longo prazo, com vigilância contínua, monitorização da actuação das forças no terreno e maior coordenação com os agentes económicos.

 

“Precisamos de um sistema de segurança previsível e fiável. Só assim conseguiremos retomar a actividade comercial com confiança e garantir o regresso da população às zonas antes abandonadas”, sublinhou um empresário de Macomia.

 

Governador: “Todos temos um papel. A estabilidade é uma construção colectiva”

 

Na sua intervenção, o governador Tauabo apelou à união de esforços entre o governo, as forças de defesa e segurança, os empresários e a sociedade civil, destacando a necessidade de reforçar a resiliência provincial no processo de reconstrução pós-terrorismo. “Não estamos a começar do zero apenas em termos de infra-estruturas destruídas. É também a confiança que precisa de ser reconstruída”, afirmou.

 

Reconhecendo os sacrifícios feitos pelo sector privado, Tauabo elogiou a persistência dos comerciantes e empresários que continuam a abastecer comunidades em zonas isoladas e vulneráveis. “É com o vosso esforço que garantimos produtos básicos mesmo nas aldeias mais remotas. O vosso papel é fundamental”, frisou.

 

Durante o encontro, vários empresários questionaram a falta de previsibilidade nas operações de escolta anteriores, assim como a ausência de informação clara sobre os critérios de descontinuidade dos comboios militares. Recorde-se que, nos últimos meses, o troço Awasse–Macomia ficou sem escolta regular, após um período de estabilidade aparente, o que acabou por permitir o retorno de actividades criminosas.

 

“É preciso transparência. O sector privado não pode ser deixado a especular sobre decisões de segurança. Isso gera incerteza e medo”, apontou outro operador logístico de Nangade.

 

Um dos pontos críticos abordados foi a alegada existência de “carceiras” ilegais e cobranças indevidas por parte de alguns elementos envolvidos nas operações de segurança. O governador garantiu que será feita uma investigação conjunta, com vista a garantir que os mecanismos de protecção à circulação não sejam apropriados por interesses paralelos.

 

“Se houver cobranças indevidas, isso será corrigido. A nossa escolta é para proteger, não para extorquir”, disse Tauabo, prometendo uma actuação harmoniosa, mas firme.

 

A EN380 é uma via estratégica para o escoamento de bens e para o acesso às zonas de Palma e Mocímboa da Praia, dois dos principais eixos de exploração de gás natural em Cabo Delgado. A retoma da escolta militar representa, para muitos, o passo mínimo indispensável para restaurar a confiança nos investimentos e garantir o funcionamento dos serviços públicos e privados nas zonas anteriormente fustigadas pelos ataques armados.

 

Apesar de ainda não haver uma previsão oficial para o fim do terrorismo na província, a decisão governamental é vista como um reconhecimento de que a estabilidade só será alcançada com participação activa de todos os actores e, sobretudo, com a protecção consistente das vias de comunicação. Moz24h

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *