Opiniao

Colonização de 500 anos? Mito político ou fato histórico?

Tiago J.B. Paqueliua
Tiago J.B. Paqueliua

Por Tiago J.B. Paqueliua

A narrativa segundo a qual Moçambique foi colonizado por Portugal durante 500 anos, tornou-se um dos dogmas repetidos pelo Estado moçambicano, para justificar reivindicações patrimoniais, e sustentar sua autoridade simbólica. Mas será esta narrativa verdadeira ou apenas mais um mito politicanente conveniente?

Do ponto de vista histórico e jurídico, não há base para essa afirmação. A chegada de Vasco da Gama à costa moçambicana em 1498 marcou apenas o início de interações comerciais e pontuais, sem qualquer controle territorial. A verdadeira colonização — com administração direta, exploração sistemática e imposição política — só se iniciou após a Conferência de Berlim (1885) e consolidou-se com as guerras de ocupação (1890–1918), durando até a independência em 1975. Isso perfaz cerca de 81 anos, não 500.

Sob o ponto de vista antroposociológico, a colonização europeia contou com cúmplices locais, desde chefes que vendiam escravos até intermediários que serviam ao poder estrangeiro. Não se pode falar de saque cultural sem mencionar os próprios moçambicanos que participaram dele.

Na vertente filosófico-política, o mito dos 500 anos funciona como instrumento de manipulação coletiva. Como bem alertou Michel Foucault, o poder fabrica narrativas para controlar consciências. E como dizia Gordon Haddon Clark, a vida sem questionamento é inaceitável — e é justamente o questionamento que o Estado tenta impedir com sua versão única da história. Até a maioria dos compatriotas têm medo de ler livros que não foram escritos pela FRELIMO.

Curiosamente, o regime atual reproduz práticas coloniais sob nova bandeira: a PIDE foi substituída pelo SISE, os campos de exílio pelos centros de reeducação, os aldeamentos coloniais pelas aldeias comunais. O que se vende como “libertação” tem mais de continuidade do que de ruptura com o passado opressor.

 

Conclusão

Teólogos como Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino lembram que o poder só é legítimo se serve à justiça e à verdade. Quando o Estado distorce a história para manter seu domínio, torna-se cúmplice do mesmo mal que diz ter combatido.

O povo moçambicano não precisa de mitos fundadores. Precisa de verdade histórica, liberdade de pensamento e justiça social autêntica. E a verdade é que não fomos colonizados por 500 anos — fomos colonizados por muito menos tempo, mas continuamos dominados por estruturas herdadas e reinventadas pelos nossos próprios governantes.(Moz24h)

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