Bispo Dom Carlos Matsinhe,
Bispo Carlos Matsinhe está fazendo à democracia moçambicana o que Pilatos fez ao inocente Jesus – autorizou
a sua morte. Após uma interrogação pública e minuciosa, Pilatos achou a verdade quanto as acusações que
pesavam sobre Jesus. No entanto, e para o espanto dos seguidores de Jesus, o governador Pilatos, usando do
seu poder e movido pela defesa do seu cargo, negou a verdade e entregou Jesus à crucificação – uma morte
deveras bárbara e vergonhosa (Joao 23:1-23).
A não assinatura, pelo Dom Carlos Matsinhe, da acta de aprovação das eleições autárquicas de 2023 não foi
apenas uma omissão, mas uma flagrante traição à confiança do povo moçambicano. Como Líder da Comissão
Nacional de Eleições, era sua responsabilidade garantir um processo transparente, justo e imparcial. Ao evitar
esta responsabilidade, conferiu legitimidade a uma vitória fraudulenta e criminosa ao Partido Frelimo,
alimentando as suspeitas e cepticismo que corroem a fé do povo na democracia.
O impacto dessa omissão não é meramente político ou ideológico; já tem um custo humano tangível e doloroso.
Devido à confusão e tensões geradas por esta acção, mais de 4 pessoas já morreram, enquanto outras cerca de
30 ficaram feridas, algumas gravemente. Estes são cidadãos moçambicanos que buscavam apenas exercer os
seus direitos democráticos e agora pagam o preço pela indiferença do presidente do CNE . A legitimidade
duvidosa que envolve estas eleições, reforçada pela inacção do Bispo Dom Carlos Matsinhe, não apenas mancha
a integridade do processo eleitoral, mas também coloca em risco a segurança e o bem-estar do povo
moçambicano. Este é um lembrete sombrio de que as acções, ou a falta delas, de figuras influentes têm
consequências reais e, às vezes, devastadoras.
É um acto que o Livro de Provérbios 17:15 condenaria, afirmando que “quem justifica o ímpio e quem condena
o justo são ambos abomináveis ao SENHOR”. Este versículo é uma lembrança de que não há neutralidade quando
a justiça está em jogo. Abster-se é tomar partido. E o partido que o Senhor escolheu, “Bispo” Dom Carlos
Matsinhe, é o da conveniência sobre a consciência.
Quando olhamos para a vida de Jesus Cristo, vemos um líder que estava constantemente desafiando as normas
estabelecidas em prol da verdade e justiça. Ele não se calou diante da hipocrisia e corrupção, mesmo quando
isso significou enfrentar as autoridades mais poderosas do seu tempo. Em Marcos 11:15-17, Jesus, zeloso da
coisa sacrossanta, expulsou os cambistas do templo, expondo a corrupção no lugar mais sagrado. O seu silêncio
e inacção, Dom Carlos Matsinhe, contrapostamente, soam como uma aceitação tácita da corrupção na esfera
política. Quando alguém que deveria ser um bastião da verdade e justiça falha em sua missão, não apenas a
estrutura da integridade é abalada, mas o próprio tecido da nossa democracia multipartidária é rasgado.
Bispo Carlos Matsinhe, enquanto presidente do CNE, negou a verdade e a democracia. Pelo que, o povo exige
sua demissão, Senhor Bispo.
Maputo, 28 de Outubro de 2023
Prof. Adriano Nuvunga
Director Executivo do Centro para Democracia e Direitos Humanos
Presidente da Rede Moçambicana dos Defensores de Direitos Humanos e Chairperson da Rede de Defensores de
Direitos Humanos da Região Austral de África.