
Por CF
A presente crise pós-eleitoral que se vive em Moçambique está a dar visibilidade a diversos actores,
que se destacam pela sua participação nas manifestações convocadas pelo candidato presidencial
Venâncio Mondlane. Mas alguns dos actores não são novos em acções de contestação ao status quo. É
como se tivessem lugar cativo quando se trata de contestar o governo do dia. Hoje contestam-se os
resultados eleitorais que segundo a Comissão Nacional de Eleições dão vitória ao partido Frelimo e ao
seu candidato presidencial. Mas em outras ocasiões já se contestou a carestia de vida.
Os bairros de Maxaquene, Polana-Caniço e Luís Cabral têm sido sempre protagonistas dos vários movimentos de contestação que acontecem em Moçambique. Em 2010 estes mesmos bairros reivindicaram
protagonismo nas manifestações que tinham como motivação a carestia de vida. Como voltaram a ter
protagonismo quando Venâncio Mondlane, ainda membro do partido Renamo , convocou manifestações a contestar os resultados das eleições autárquicas de 2023.
A Avenida Vladimir Lénine que percorre os bairros de Maxaquene e Polana-Caniço tem sido um dos
lugares de destaque nestas manifestações. Foi nesta Avenida que homenageia o revolucionário russo
que os manifestantes e a Polícia tiveram um dos mais visíveis confrontos. No dia 7 de Novembro, que
foi até agora o dia mais importante das manifestações, os manifestantes destes dois bairros encheram
a Avenida Vladimir Lénine e tudo fizeram para furar a barreira policial mas sem sucesso.
A Polícia com recurso a todos os meios ao seu dispôr tudo fez para travar os manifestantes que pretendiam dirigir-se ao centro da cidade de Maputo. Vale a pena lembra que estes dois bairros estão muitos próximos de bairros de elite como são os casos dos bairros da Coop e da Sommerschield. É neste último bairro que
vivem muitos dos dirigentes políticos moçambicanos. Talvez isso explica a acção policial que tudo faz
para que os manifestantes não ultrapassem as fronteiras dos seus bairros. Mas talvez a proximidade
com os dois bairros de elite possa explicar a quase predisposição natural que os jovens destes bairros
têm para participar de acções de contestação ao regime do dia. São bairros em que os jovens estão,
grosso modo, excluídos das políticas públicas destinadas a sua faixa etária. Ao mesmo tempo que têm
que conviver com a ostentação dos bairros vizinhos. Do bairro de Maxaquene também saiem os jovens
que protagonizam manifestações nas Avenidas Joaquim Chissano e Acordos de Lusaca.
O bairro Luís Cabral está situado na fronteira entre as autarquias de Maputo e Matola. E é na Estrada
Nacional nº 4 que os manifestantes deste bairro têm o seu palco. Vezes sem conta esta importante
estrada fica bloqueada impedindo a circulação entre as duas importantes autarquias. Em algum
momento a circulação na EN4 teve que ser feita com protecçaõ policial porque os manifestantes
atacavam as viaturas que por lá passaram. Estes bairro também é um actor sempre presente nos
movimentos de contestação que acontecem na cidade de Maputo. Os três bairros formam uma especíe de eixo da revolta popular. (Moz24h)