Arecente redução da taxa de juro de política monetária (MIMO) para 12,25% gerou reacções mistas entre os analistas económicos. A medida é vista como um impulso necessário para estimular o crédito e aliviar os encargos das empresas, especialmente num contexto de inflação controlada, que passou de 10,5% em janeiro de 2023 para 3,3% em janeiro de 2025. No entanto, há quem alerte para os desafios subjacentes, como a falta de confiança do setor privado e a instabilidade política, que podem mitigar os efeitos esperados, caso os bancos optem por restringir ainda mais o crédito.
Élio Pedro Cossa, economista com experiência no sector financeiro, considera a medida necessária para estimular o crédito e aliviar os encargos das empresas, sobretudo num contexto de inflação controlada, que caiu de 10,5% em Janeiro de 2023 para 3,3% em Janeiro de 2025. Por outro lado, Osvaldo Alexandre, especialista em política monetária e fiscal, alerta que a falta de confiança do sector privado e a instabilidade política podem anular os efeitos esperados, uma vez que os bancos podem restringir ainda mais o crédito.
Inflação controlada e custos financeiros mais baixos: Oportunidade para o sector privado?
A decisão do Banco de Moçambique, anunciada num contexto de recuperação pós-manifestações e desafios financeiros internos e externos, faz parte de um ciclo de cortes iniciado em Janeiro de 2024, quando a taxa MIMO era de 16,5%. O objectivo do banco central é estimular a actividade económica, garantindo que a inflação se mantenha num dígito no médio prazo.
Para Élio Pedro Cossa, a flexibilização da política monetária cria um ambiente mais favorável para a recuperação empresarial, sobretudo para empresas endividadas. “A descida da taxa MIMO reduz o custo do crédito, permitindo que as empresas reorganizem os seus custos e retomem os investimentos. Esta redução no encargo financeiro pode libertar recursos para outras áreas estratégicas das empresas”, explica.
O economista destaca ainda que a inflação se mantém controlada, sustentando a decisão do BdM. “A inflação perdeu atrito no curto prazo devido aos impactos das manifestações, mas continua ancorada e deve manter-se na banda de um dígito”, afirma. Segundo ele, manter os juros elevados neste momento poderia prejudicar ainda mais a actividade produtiva, agravando os desafios económicos do País.

Falta de confiança no mercado pode anular os benefícios do corte
Apesar da redução da taxa de juro, Osvaldo Alexandre adopta uma visão mais crítica, argumentando que a falta de confiança no mercado financeiro e a instabilidade política reduzem a eficácia da medida. “Os bancos não vão emprestar dinheiro apenas porque a taxa caiu. Há uma crise de confiança no sector privado, e as instituições financeiras exigirão garantias mais rígidas para conceder crédito”, alerta.
Para o economista, o corte na taxa não terá um impacto significativo sem medidas complementares que assegurem um ambiente de negócios favorável. “A política monetária, por si só, não é suficiente para impulsionar o crescimento económico. O Governo precisa de investir mais na economia real. Sem um plano fiscal expansionista e sem incentivos à produção, a redução da taxa de juro pode ter um efeito muito limitado”, analisa.
Além disso, Alexandre questiona o momento da decisão do BdM, sugerindo que o corte deveria ter ocorrido antes da crise política para gerar impactos mais positivos. “Se essa redução tivesse sido feita há três meses, os efeitos seriam mais expressivos. Agora, em meio à instabilidade, o crédito não fluirá como esperado”, pondera.

Dívida pública e balança comercial: Um risco adicional?
Outro desafio apontado pelos economistas é o crescimento acelerado da dívida pública, que tem superado o ritmo de crescimento do PIB e das receitas fiscais.
Élio Pedro Cossa alerta que os impactos das manifestações de 2024 agravaram o défice comercial e reduziram a arrecadação do Estado, criando pressão adicional sobre a balança de pagamentos.”Se a dívida continuar a crescer sem um aumento da actividade produtiva, a pressão sobre as reservas cambiais do banco central pode intensificar-se, o que pode exigir futuras intervenções para conter instabilidades cambiais”, explica.
Já Osvaldo Alexandre aponta para um problema estrutural da economia moçambicana, criticando a dependência excessiva do sector privado do Estado.”Precisamos de um sector produtivo forte, capaz de gerar inovação e crescimento sustentável. O modelo actual favorece apenas sectores privilegiados e não contribui para a inclusão económica da população”, avalia.
Além disso, a necessidade de importação de bens para repor os stocks destruídos durante os protestos contribui para o défice da balança comercial. Segundo Cossa, este factor pode comprometer a estabilidade do metical e exigir novas intervenções do Banco de Moçambique no mercado cambial.
Enquanto Cossa acredita que a flexibilização monetária pode impulsionar a recuperação da economia, Alexandre defende que, sem incentivos fiscais e políticas estruturais de apoio ao investimento, o impacto será limitado. Ambos concordam que, para que o crescimento seja sustentável, é essencial garantir estabilidade política e um sector produtivo fortalecido
Política monetária precisa de complementos para ter um efeito sustentável
Apesar de reconhecerem que a redução da taxa de juro é um passo na direcção certa, os economistas concordam que a medida isolada não será suficiente para impulsionar a economia moçambicana.
Para Osvaldo Alexandre, a solução passa por uma política fiscal mais activa, com incentivos ao sector produtivo e apoio às pequenas e médias empresas. “A economia não se fortalece apenas com a redução da taxa de juro. O Governo precisa de garantir que os recursos cheguem às empresas e criar um ambiente propício ao investimento”, enfatiza.
Já Élio Pedro Cossa defende que a recuperação económica depende da estabilidade política, essencial para restaurar a confiança do sector privado e atrair mais investimentos. “O que falta agora é previsibilidade. O sector privado só vai reagir quando houver sinais claros de estabilidade, permitindo investimentos de longo prazo”, conclui. (DE)