Economia

*Ainda sobre os tractores para transporte de passageiros

Por Book Sambo*
James Scott, antropólogo americano, escreveu um livro intitulado A Arma dos Fracos: Resistência Camponesa nas Formas Cotidianas.
O livro analisa formas sutis, dissimuladas e cotidianas de resistência dos camponeses pobres contra elites dominantes, na Malásia, especialmente em contextos onde a revolta aberta era muito arriscada ou impossível.
Na sua argumentação, refere que em contextos de dominação, os pobres utilizam “armas dos fracos”, como:
•fingir que não entendeu (incompetência simulada),
•trabalhar devagar (preguiça estratégica),
•roubo pequeno e cotidiano (como apropriar-se de grãos ou ferramentas),
•evasão de trabalho ou impostos,
•fofocas, boatos e piadas com duplo sentido (como crítica disfarçada de humor),
•sabotar discretamente ordens ou políticas injustas.
Embora aparentemente pequenas, essas formas de resistência mostram-se como grande afronta ao poder, que aos poucos podem evoluir para contornos mais estruturados de luta com consequências se calhar imprevisíveis.
Quando reflectia sobre essa obra encontrei alguma semelhança na forma como certos conteúdos confidenciais, em Moçambique, são expostos nas redes sociais, a semelhança do contrato milionário para aquisição de tractores. É também uma arma dos fracos e resistência dos moçambicanos que se sentem injustiçados pelo regime.
Com medo do gás lacrimogêneo e balas da UIR, SERNIC, cinzentinhos (agora azulinhos), etc.; com medo de perder emprego e sofrer outras represálias, os oprimidos de Moz expõem ao mundo inteiro as falcatruas daqueles que governam sem o seu consentimento. Parece pouco mas os efeitos estão a fermentar até acontecer o inesperado.
Foi assim também na luta de libertação nacional com jovens como Noémia de Sousa, José Craveirinha, Malangatana e muitos outros que contribuíram para a resistência anti-colonial.
*Sociólogo

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