Por Quinton Nicuete
Balama, Cabo Delgado — A mina de grafite de Balama, operada pela TWIGG Exploration and Mining Limitada, que é uma subsidiária integral da australiana Syrah Resources, poderá retomar as suas atividades ainda este mês, encerrando quase doze meses de inatividade forçada. A paralisação foi desencadeada por protestos de comunidades reassentadas e tensões políticas após as eleições gerais de outubro de 2024. Apesar do progresso logístico e institucional, persistem tensões entre a empresa, as autoridades e os residentes locais, principalmente em torno das compensações por perda de terras e despedimentos considerados injustos.
A confirmação da iminente retoma foi reforçada pelo administrador do distrito de Balama, Edson Lino, numa reportagem exibida pela STV. Segundo o dirigente, já foi feito o levantamento de mais de 450 camponeses afetados pela operação mineira, e cada um deverá receber uma compensação estimada em 120 mil meticais por hectare. Edson Lino acrescentou que foi aberto um espaço de reclamação para que famílias que se sintam injustiçadas possam apresentar as suas queixas e reivindicar os seus direitos.
No entanto, vários moradores e líderes comunitários continuam céticos quanto à retoma das atividades sem que as compensações prometidas tenham sido, de facto, pagas. Proprietários das áreas abrangidas pela extração de grafite afirmam que não faz sentido que a empresa reinicie a produção antes de saldar as dívidas para com as famílias deslocadas. As críticas estendem-se também ao despedimento de 25 trabalhadores, que, segundo os comunitários, foram dispensados sem justa causa e até hoje não receberam qualquer indemnização.
A posição do administrador distrital também tem gerado interpretações ambíguas. “Sinto-me mal quando ouço dizer que estou do lado da empresa, e a empresa, por sua vez, diz que estou do lado da população”, declarou Edson Lino à reportagem da STV, sinalizando o equilíbrio delicado que as autoridades locais tentam manter num contexto de pressão social e exigências corporativas.
A mina está inativa desde dezembro de 2024, altura em que a Syrah declarou “força maior”, justificando a suspensão com os protestos crescentes e a instabilidade pós-eleitoral. Durante esse período, a empresa enfrentou incumprimentos em empréstimos internacionais, incluindo 150 milhões de dólares da Development Finance Corporation (DFC) dos EUA e outros 102 milhões do Departamento de Energia norte-americano. A produção caiu a zero no primeiro trimestre de 2025 e as vendas desceram drasticamente para 1 300 toneladas, contrastando com as 20 100 toneladas do mesmo período no ano anterior.
Com o restabelecimento do acesso à mina e a mobilização de equipas de manutenção, a Syrah Resources espera retomar embarques ainda no segundo trimestre, embora a data oficial de reabertura dependa do levantamento formal da declaração de força maior e da normalização dos compromissos financeiros e sociais.
A reabertura da mina terá impacto direto na cadeia global de fornecimento de grafite natural, fundamental para baterias de veículos elétricos. Em Moçambique, representa um teste à capacidade do governo em garantir estabilidade, justiça social e gestão transparente dos recursos naturais. Ainda assim, a pressão das comunidades por compensações justas e por maior responsabilização da empresa permanece como um dos principais fatores de risco para a sustentabilidade da operação em Balama. (Moz24h)