Sociedade

Abra as portas da sua felicidade

 

O consumismo exagerado por causa das estratégias do mercado que dita, por um lado, a persuasão e a venda de tudo, e por outro lado, a ostentação e o preenchimento do vazio interior do ser humano que muitas vezes alimenta o ter e esquece o ser, a felicidade vai se evaporando como um perfume mal conservado.

Enquanto a pessoa humana tende perder o tempo com os prazeres, determina seu estilo de vida como um hedonista.
O hedonismo grego pregava a vida em busca só de prazeres, isto é, viver de prazeres, não obstante às outras versões da vida que deve ser de ascese e sobriedade.

A nossa juventude inventa termos, como curtir a vida, aproveitar bem a vida, ao se referir, por exemplo, o desperdício dos finais de semana nas bebidas e festas sem fim.

Em contrapartida, por causa do esgotamento físico, mental e emocional em vida hedonista, cresce no seio dessa juventude a ansiedade, a depressão que chega ao ápice da loucura que é a perda de sentido da vida. Aliás, cresce o número de suicídios de pessoas que escolhem essa forma de viver.
O suicídio que nos referimos não é somente o físico, mas também o ético e moral porque quem não cuida do seu “eu interior”, quebra a vitrine da sua essência.

Entretanto, o prazer, per si, não é crime nem é pecado. Mas transformar o prazer em modo de ser e de viver é que eleva o caso a um esvaziamento interior que estamos a abordar nesta breve reflexão.

Se uma pessoa, no final da jornada laboral, na hora da refeição em família, tomar um bom vinho, aí está tendo um bom prazer. Porém se tornar isso uma regra, uma rotina, já não é um prazer, mas um vício.
Se a pessoa vive gastando rios de dinheiro na bebida, até tornar-se um alcoólatra, aí está o hedonismo.

Acima buscamos explanar o que é prazer. Agora nos prendemos ao tema em debate: a felicidade.

Como podemos abrir a porta da felicidade?

Onde podemos encontrar a felicidade?
Se o prazer é fácil de ser achado, a felicidade não é.

Muitas vezes, podemos ouvir alguém a dizer que está feliz, mas isso não quer dizer que encontrou a felicidade.
Também podemos encontrar outra pessoa que afirma que está triste, o que não significa que esteja sem felicidade.

O que é felicidade?

Não é possível discutirmos a respeito da felicidade sem recorrermos ao clássico filósofo Aristóteles que nos ilumine na Ética a Nicômaco.

De acordo com Aristóteles, a felicidade (ou eudaimonia, em grego) é o objetivo final da vida humana e é alcançada através da virtude e da razão.

Aristóteles define a felicidade como a realização plena da natureza humana, que é alcançada através da virtude e da razão. A felicidade não é apenas um estado de prazer ou satisfação, mas sim uma condição de vida que resulta da realização das potencialidades humanas.

Quais são os componentes da felicidade?

A. Virtude: é um componente fundamental da felicidade. Aristóteles argumenta que as pessoas virtuosas são capazes de alcançar a felicidade porque elas têm uma disposição de caráter que as permite agir de acordo com a razão.
Recorrendo ao exemplo dado de prezar que leva à felicidade, tomar um bom vinho de forma moderada, aí está a virtude que conduz à felicidade.
Para abrir a porta da felicidade, bastaria, neste exemplo do vinho, perceber as limitações pessoais, apegar-se ao estilo de vida mais saudável e à convivência com pessoas sábias.

B. Razão: é outro componente importante da felicidade. Aristóteles argumenta que a razão permite às pessoas entenderem o mundo e tomarem decisões éticas.
A decisão a ser tomada no consumo do vinho é saber os efeitos do vinho. Ao decidir tomar o vinho de forma moderada, a pessoa usou da razão a seu favor.
Neste caso, o vinho nunca será inimigo, mas um instrumento de alegria em momentos nobres de uma pessoa sábia.

C. Atividades: Aristóteles também enfatiza a importância das atividades na felicidade. Ele sustenta que as pessoas devem se engajar em atividades que sejam significativas e que permitam que elas desenvolvam suas potencialidades.

O jovem que, além de buscar emprego para seu salário, percebe que o trabalho o dignifica e é forma mais prática de contribuir para o desenvolvimento integral da pessoa humana, se dedica e se doa sem olhar, antes, o salário, facilmente tornar-se-á um profissional engajado e exemplar. Ao contrário disso, é um jovem que acorda se empurrando para ir trabalhar porque está em busca de salário. O seu contributo será medíocre porque não haverá alegria em fazer parte de uma equipa de funcionários comprometidos com o ideal da sua instituição.
O primeiro exemplo do jovem que se anima para trabalhar com sua contribuição no mundo, estará, com certeza, a abrir a porta da sua felicidade. Ele terá realização interior.

Tipos de felicidade na reflexão de Aristóteles

Para diferenciar prazer de felicidade, Aristóteles apresenta dois tipos:

a)Felicidade hedônica que é baseada no prazer e na satisfação. A pessoa só vive de prazer (hedonismo) sem medir as consequências.
Conforme o exemplo do vinho, o hedonista começaria com uma garrafa, depois outra até chegar a uma dúzia de garrafas de vinho.
Se não tiver dinheiro para adquirir o vinho, mergulha na cachaça ou mistura com cerveja. No final da noite, está totalmente arruinado e quebrado.

b)Felicidade (eudaimonia) é a forma mais alta de felicidade. Para Aristóteles, ela é alcançada através da virtude e da razão, e é caracterizada por uma sensação de realização e satisfação.
Para realçar o exemplo da pessoa que bebe vinho com moderação, um cálice durante a refeição será suficiente para fechar seu dia feliz.
Para essa pessoa virtuosa, o problema não está na quantidade de vinho, mas na qualidade e boa companhia que terá na hora da refeição e uma taça de bom vinho.

Para abrir a porta da felicidade, é crucial identificar as capacidades e as competências pessoais a serviço da humanidade e alavancar a jornada diária com atividades que impulsionam a vida.

Abrir a porta da felicidade é buscar dar sentido à vida com pequenos gestos que tornam a vida muito mais agradável.

Busquemos a virtude e a razão como meios que nos auxiliarão na abertura da porta da felicidade.

“O despertador dos sonhos”

Servo inútil,
Pe. Kwiriwi, CP

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