E se riscássemos “político” do léxico oficial,
Como se apaga um erro num rascunho banal,
Talvez o país ganhasse moral.
Sem “deputado”, “ministro” ou “governante”,
Os ratos teriam de sair a descoberto, finalmente,
Sem títulos, ficariam tão pouco importantes.
Sobrar-nos-ia o verbo “enganar”, claro está,
E talvez “prometer”, que rima com nada, vá —
Mas ainda assim, sobrava-nos paz.
E quando alguém mentisse com ar convicto,
Diríamos apenas: “isso foi muito… fictício”,
E continuaríamos o almoço, tranquilos.
Pois Aristóteles dizia, com nobre razão,
Que a virtude é meio, não só ilusão —
Mas neste teatro, a ética é só encenação.
— Ismael Miquidade