
Por Estacio Valoi
Num acto de retaliação Policia de Namanhumbir prendeu ontem dia 19/02/24 quatro Naparamas no posto administrativo de Namanhumbir no distrito de Montepuez quando um dos dois policias que se fizera a mina de ouro na Aldeia Muaja para extorquir mineradores artesanais identificou os Naparamas quando estes estavam na zona de Namanhumbir.
Os Naparmas estão baseados na Muaja, no distrito de Ancuabe, na província de Cabo Delgado, dista pouco mais de 100 quilómetros da cidade de Pemba, localizada ao longo da estrada Nacional 14, e faz limite com o distrito de Montepuez, ligando aos distritos mais a sul da província.
Extorsão
Antes, no dia 01/01/24, um dia depois da nossa reportagem ter estado em Muaja com aquela força local- Naparamas, capturam dois policias na mina de ouro em Muaja quando estes completamente uniformizados e armados com duas pistolas onde um deles tinham em seu poder foram também capturados . Os policias não estavam em trabalho , estavam de ferias mas dirigiram –se aquela parte da mina quando souberam que um dos garimpeiros tinha descoberto uma boa quantidade de ouro .
Na tentativa de extorquir ao garimpeiro, os Naparamas que faziam a sua rusga diária depois de semanas antes deste acontecimento terem se apercebido da movimentação de terroristas em plena passagem para mais a sul da província em direção do distrito de Chiuri, ficaram alerta!
Extorsão frustrada , os policias extorquistes foram levados a Aldeia Muaja onde por sua vez a chefe da localidade sem autonomia quis apoderar-se das duas pistolas , facto este que pôs em alvoroço o comandante da policia de Ancuabe que enviara os seus elementos para a recolha dos referidas armas mas que a chefe da localidade recusou entregar o que a custou ‘ um puxão de orelhas’ pela administração assim como pelo comando da policia local.
“Naparamas foram pegues antes de ontem no controle de Namanhumbir quando iam a velha fazer tratamento ,ali no controle encontraram um dos policias que eles antes prenderam na mina de ouro. Até hoje continuam lá na esquadra. Antes pegaram bandidos que vieram assaltar aqui na aldeia ate lá na mina . Eram policiais que estão a trabalhar em Namanhumbir . Foi semana passada vieram ate a mina cada um com quinze munições , aqui mesmo em Muaja, na mina de ouro . Foram parar na mina sem identificação . Foram solicitada pelos Naparamas, os supostos agentes da policia exibiram nenhuma identifica o e de seguida foram levados pelos Naparamas até aqui na aldeia . Disseram que iam trabalhar mas sem autorização, sem licença que iam trabalhar na mina . Foram suspeitos , e desconfiado de que eles não foram mina para trabalhar mas para fazer outra coisa.” Disseram fontes
Ainda na quinta-feira (15.02), na comunidade de Muaja, distrito de Ancuabe, após rumores da presença de terroristas naquela área o que fez com que algumas pessoas entrassem em pânico apos ‘ uma pessoa de Ancuabe que andou a espalhar boato que terroristas estavam na mina de ouro e queriam atacar Muaja , nós até queríamos fugir mas quando falaram da zona da mina como ‘e um pouco distante e era noite, ficamos aqui a dormir. Aquele jovem depois foi apanhado pelos Naparamas e deram lhe piorada. Aqui não houve nada. Disseram fontes em Muaja
Foto: Estacio Valoi/Naparama/Muaja
Patrulha dos Namapaamas e a magia
O corpo dos Naparamas, vislumbram-se cortes laminados, rasgados onde cintilavam cores a verde, preto carregados de cinza untada na horizontal e de vez em quando na vertical como se de linhas rectas se tratasse. Como se fosse uma mistura de ritmo de ervas que se deslocavam ao movimento do corpo, rupestico, cubismo, por vezes abstrato. “Temos uma forca espiritual.”
‘ Nós vamos a mata a procura dos – Al Shabaab. Há dias em que dormimos lá e outros voltamos a comunidade. Patrulhamos não apenas na mata –floresta mas aqui também na aldeia e quando detemos alguém , chamamos os militares as pessoas. Já prendemos mais de 20 Al Shabaabs e entregamos aos militares . Para podermos neutralizar os terroristas n’os usamos magia negra, medicina tradicional, somos baptizamos e incorporam essa poção no nosso corpo, passamos de um ritual magico , o nosso basto sincronizado com o ambiente ajuda-nos a detectar um Alshabaab, não qualquer pessoa, mas um bandido. Se eu encostar ou apontar este bastão vermelho, arma tradicional e temos os espíritos que nos protegem e nos guiam e se apontar este bastão para uma galinha ela fica completamente neutralizada e é o que acontece quando detectamos os Al Shabaab.
Nos seus périplos, sem botas, uniforme se não o próprio uniforme natural –corpo com eles carregam paus-bastões vermelhos ,assim como pela cabeça e braço fitas da mesma cor.
“Pela mata adentro por vezes cruzamos nos com fiscais do Parque Nacional das Quirimbas, questionam –nos sobre o que estamos a fazer e, apenas respondemos que estamos a defender o País, a nossa comunidade. Com os fiscais temos boas relações. Não somos pagos por ninguém e muito menos pelo governo, a vontade pessoal é quwe nos guia, a decisão de lutar contra os Al Shabaab.”
Dia e noite, faca sol, chuva, frio seus corpos permanecem quase que sem trapos sobre eles se não a poção magica- espíritos que os guiam. “O inimigo nos vê, tem medo de n’os mesmo com as armas que tem porque com o remédio que usamos os nossos corpos ficaram blindados, não entra bala, nem catana, muito menos bazuca, morteiro, temos este poder espiritual. Queremos o bem estar do povo por isso os protegemos, não temos dinheiro.”
Sem muitos ataques registados nas suas comunidades, da vez em que os bandidos lá foram, tiveram que sair a correr.
“Perseguimos os bandidos. Só ouvimos que passaram de lá, desceram para lá mas não aqui para a aldeia, brincam em outros lugares . Da vez que cá vieram decapitaram duas pessoas homens, isto foi no ano passado, no mês de Maio , encontraram as pessoas estavam na machamba, disseram uma das pessoas para vir com a cabeça de um dos decapitados e avisar a aldeia que eles iam atacar. As pessoas decapitadas eram adultas.” Enfatizaram os Naparamas!
Foto: Estacio Valoi/Naparama/Muaja
Quem são os Naparamas
Naparamas são guerreiros moçambicanos que surgiram na década de 1980, no contexto da Guerra Civil Moçambicana. Aliando conhecimentos tradicionais, elementos místicos e um sentimento de comunidade, os Naparamas serviram como grupos auto organizados contrários à presença da Renamo e, portanto, se aliaram à FRELIMO. São oriundos do centro-norte de Moçambique, principalmente da província da Zambézia. Combatiam com arcos, flechas e lanças.
O movimento teve as suas raízes em um curandeiro tradicional, que contava à época 27 anos, chamado Manuel António, oriundo, crê-se, do distrito de Pebane, na província moçambicana da Zambézia. Segundo a história que o próprio contara, ele morrera de sarampo e estivera mesmo enterrado durantes seis dias, ao fim dos quais ressuscitara e a quem Deus instruíra para ir libertar o povo das destruições da guerra. Em cerimónias rituais, com cada vez maior audiência, Manuel António vacinava os seus seguidores, fazendo-os ingerir poções baseadas em plantas medicinais; e marcando-os com incisões simbólicas que os imunizariam das balas inimigas. E os assim tratados acreditavam.
O governo moçambicano em Maputo tornara o movimento seu aliado, aceitando com humildade e com um certo embaraço que ele cumpria funções que o Estado não estava em condições de assegurar. Em declarações públicas, o próprio governador provincial de Nampula constatava quanto o povo estava cansado da guerra e quanto parecia estar disposto até a acreditar em superstições para que se lhe pusesse fim. Mas, como é muito frequente em fenómenos sociais com estas características, o crescimento do movimento Naparama também estava a causar a sua degenerescência. Alguns grupos dos seguidores de Manuel António começaram a também usar os uniformes e as armas capturadas ao inimigo. Dissidências como a de um tal Comandante Cinco no norte da província de Nampula, assumiram comportamentos associais que mimetizavam tudo aquilo que o movimento prometera às populações que iria combater. Mas o principal inimigo dos Naparamas continuava a ser a Renamo.
Os Naparamas se organizaram novamente no ano de 2011 para exigir ao Governo Central seu auxílio pós-guerra, após a exclusão dos membros de tal organização no Estatuto dos Combatentes. (Moz24h)