Sociedade

Mulher assassinada em ataque de insurgentes em Mazeze, Ancuabe

Por Quinton Nicuete

Populares do posto administrativo de Mazeze, no distrito de Ancuabe, província de Cabo Delgado, relataram a morte de uma mulher, vítima de um ataque perpetrado por homens armados suspeitos de integrar grupos insurgentes que atuam na região.

Segundo testemunhas locais, a vítima encontrava-se numa área de produção agrícola à procura de verduras quando foi surpreendida pelos atacantes. O corpo só viria a ser localizado no dia seguinte, após buscas da comunidade preocupada com a sua ausência. “Ela estava sozinha e foi abatida sem piedade”, descreveu um residente de Ancuabe.

Antes deste incidente, os mesmos grupos insurgentes já haviam criado pânico noutras aldeias. Na segunda-feira, invadiram Nonia, permanecendo durante um dia, e deslocaram-se depois para Naputa, onde capturaram quatro civis nas zonas de produção agrícola, obrigando-os a servir como guias antes de os libertarem horas depois.

Fontes locais indicam que os insurgentes chegaram a passar a poucos metros da posição das forças ruandesas em Nacololo. Um líder comunitário, que regressava de um evento oficial no qual tinha recebido uma bicicleta oferecida por parceiros do governo distrital, foi interpelado pelos atacantes. Conseguiu escapar, refugiando-se junto das forças ruandesas, que confirmaram a presença do grupo armado. Mais tarde, a bicicleta foi encontrada destruída.

Apesar do alerta, as forças destacadas não avançaram em perseguição, regressando ao quartel. Na mesma tarde, o grupo insurgente continuou a movimentar-se entre Metoro-sede e Nannona, perto do quartel de Macarara, onde terá deixado um engenho explosivo que causou quatro feridos e capturou novamente um civil para servir de guia. Poucas horas depois, atravessaram a Estrada Nacional Número Um, na aldeia de Ntique, aumentando o clima de insegurança enquanto se dirigiam para Chiúre.

Este episódio integra-se numa onda de violência que se intensifica em Cabo Delgado desde 2017, ano em que grupos insurgentes ligados ao autoproclamado Estado Islâmico iniciaram ataques sucessivos contra comunidades locais. Dados oficiais indicam que, apenas no distrito vizinho de Chiúre, os confrontos registados em julho provocaram mais de 57 mil deslocados.

A escalada não se restringe a Ancuabe. Nos últimos meses, ataques foram registados também em Muidumbe, Quissanga, Meluco e, mais recentemente, em Mocímboa da Praia, onde várias mortes levaram a organização Médicos Sem Fronteiras a suspender operações por falta de segurança.

De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), só em 2024 pelo menos 349 pessoas morreram em ataques no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior. A maior parte das ações foi reivindicada por células ligadas ao Estado Islâmico, reforçando o caráter transnacional da insurgência que continua a afetar a província de Cabo Delgado. Moz24h

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